O grande estresse nacional
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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 29/10/2022 - Matéria atualizada em 29/10/2022 às 04h00
Confúcio afirmava: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar um dia na tua vida”. Mas eu acho que por mais que se goste da profissão, qualquer um, durante alguns dias, depois de 8 ou mais horas de trabalho contínuo, pode se sentir cansado. O cansaço tem origem em um esforço intenso mesmo se gostamos da nossa atividade, é como jogar futebol uma hora ou mais, cozinhar durante três horas, estudar ou ensinar durante várias horas seguidas. Isso cansa e torna difícil retomar as atividades imediatamente. A sensação é diferente de quando nos sentimos estressados.
A Medicina diferencia o cansaço do estresse. O cansaço advém da prática de atividades e esforços físicos ou mentais desenvolvidos durante um tempo longo, podendo ser maior ou menor dependendo de variáveis como a idade, as condições e horários nos quais as atividades são exercidas. O estresse é diferente. O estresse, de uma maneira geral, resulta de um esforço sem sentido, isto é, quando não se entende por que se está fazendo alguma coisa. Geralmente, as segundas-feiras são um desafio geral. Muitos levantam-se cansados porque ainda não deu tempo de recuperar todas as forças, mas é diferente de se levantar estressado. Quando estamos cansados queremos ficar um pouquinho mais na cama. Quando estamos estressados, a pessoa não quer dormir mais um pouco, ela não quer é levantar-se, não quer é sair da cama. Henry Ford, industrial fundador da produção em série que revolucionou o mercado com o seu Ford modelo T, escreveu: “Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a isso”. Estamos saindo de uma longa pandemia que alterou os hábitos de vida mundialmente, causou danos às economias, desemprego, causou separações conjugais, mortes aos milhares, muitas foram as famílias que perderam parentes: filhos perderam pais, e foi frequente ocorrer uma das piores dores sofridas pelo ser humano - pais perderam filhos. E só recentemente voltamos a nos reunir com os amigos e a família, podendo abraçá-los e beijá-los sem usarmos máscaras. Acumulando sofrimentos para os brasileiros vieram as eleições nacionais, injustificadamente, estressantes como nunca se viu desde a redemocratização. Não é de se estranhar que os consultórios médicos estejam lotados de pacientes com variados tipos de queixas, muitas das quais, tem como doença de base, unicamente o estresse. Muitos pacientes estão com os psicólogos e psicanalistas. Ninguém aguenta mais tanta conturbação, tanta instabilidade e assédio eleitoral, tantas notícias inverídicas, e a possiblidade concreta desse ambiente doentio resultar em violência. Somos atualmente um País enfermo, que precisa urgentemente da única medicação capaz de mitigar seus males. Ela está no cumprimento da Constituição e das normas eleitorais, e conforme falou o Presidente da República, quem ganhar a eleição no voto deverá tomar posse no dia determinado, e isso precisa ser feito em paz e segurança, e sem acréscimos de mais estresse, fator tão demolidor da saúde humana.