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Opinião

O eterno festival .

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Nélson Rodrigues, inventor de tantos personagens que nos encantaram e entraram para a história, está presente. Nélson era um conservador ao modelo tradicional, anti-hipocrisia, e se deliciava com os palavrões perpetrados pelas torcidas e pelos atletas durante as partidas. Afirmava que os xingamentos e palavrões estimulavam os jogadores a buscar a vitória e extravasar o aperreio dos torcedores. Mas eis que em Belo Horizonte, logo depois da “redentora” em abril de 1964, um delegado moralista distribuiu espiões pelas arquibancadas dos estádios porque, “daqui pra frente, quem disser mais de três palavrões, torcendo por seu clube, vai ser preso”.

Esse e muitos outros episódios foram imortalizados por Sérgio Porto, o “Stanislaw Ponte Preta”, criador do saudoso Festival da Besteira que Assola o País (o FEBEAPÁ), cujo almanaque anual, selecionando as principais “ocorrências” nacionais do período, era esperado avidamente pela galera. Segundo os historiadores, é difícil precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o país. Pouco depois da “redentora”, todavia, várias “autoridades”, sentindo a oportunidade de aparecer, foram possuídas pela política do dedurismo, advindo daí que essas peripécias, relatadas tempos depois, parecem inacreditáveis. Esse alastramento foi notado logo depois de abril de 1964, quando uma inspetora de ensino no interior de São Paulo, uma senhora de um nível intelectual mais elevado pouquinha coisa, ao saber que seu filho tirara zero numa prova de matemática, embora sabendo que o garoto era um debiloide, não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista. Foi um perrengue tremendo e o professor quase entra pelo cano. Foi preciso que vários pedagogos da região - todos de passado ilibado - se movimentassem em defesa do caluniado para que ele se livrasse de um IPM. Ad latere, um time da Alemanha Oriental vinha disputar alguns jogos no Brasil e o Itamaraty distribuiu uma nota avisando que os alemães só jogariam se a partida não tivesse cunho político. “Cunho político“ - explicaria depois o próprio Itamaraty - seria tocar o hino nacional dos dois países que iriam jogar. Em Mariana-MG, um delegado de polícia proibiu casais de sentarem juntos na única praça namorável da cidade e baixou uma portaria dizendo que moça só poderia ir ao cinema com atestado dos pais. Coisas que aconteceram nos últimos anos no Brasil - como no enfrentamento da pandemia de Covid-19 e as “soluções” oferecidas - sentem falta de um Stanislaw Ponte Preta e seu FEBEAPÁ para imortalizá-las com a panaceia do humor. Certamente comporiam um capítulo especial desse festival, episódios como o empenho daquele fervoroso grupo que com os seus celulares iluminando o infinito celestial, apelavam para que os Ovnis e seus generais galáticos viessem em seu socorro. Pelo que se sabe, até agora os Ovnis ainda não atenderam esses e outros clamores grupais, mas não custa perseverar, afinal, as distâncias daqui para o Planeta Mongo do Flash Gordon são imensas.

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