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Nº 5822
Opinião

A tragédia e o alento .

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da ALL e do IHGAL | Edição do dia 25/02/2023 - Matéria atualizada em 25/02/2023 às 04h00

A grande calamidade pública ocorrida no litoral Norte de São Paulo, onde choveu mais de 600 mm em pouco tempo, é um evento climático extremo, segundo o cientista Carlos Nobre, coautor do trabalho que ganhou o Prêmio Nobel de Paz de 2007, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial ), pesquisador sênior da USP, climatologista com formação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e referência brasileira em mudanças climáticas, além de ser um raro brasileiro membro do Royal College de Londres. Esses eventos podem ser descritos como algo que foge do que é considerado mais provável de acontecer.

O recorde de chuvas em 24 horas tem a ver com o fato de que a temperatura superficial do oceano estava mais alta, cerca de 27o C. Isso faz o oceano evaporar uma quantidade imensa de água. O sistema meteorológico que ficou sobre o oceano, uma baixa de pressão, jogou essa imensa quantidade de vapor para dentro da costa. O vapor subiu a Serra do Mar, condensou e choveu torrencialmente. “Quanto mais aquecemos o planeta, maiores as probabilidades de eventos extremos irem se tornando cada vez piores. Eventos extremos, junto a vulnerabilidades locais (como a ocupação das encostas), são a receita para desastres”, afirmam os cientistas. Criteriosas observações a longo prazo mostram, por exemplo, o que é esperado para uma região, assim como o intervalo de variação que é comum em torno de uma média. Um evento fora desse intervalo, ou seja, mais raro e mais severo, é considerado extremo. Geralmente, eles têm grande capacidade destrutiva. É o caso de São Sebastião, pico de outras calamidades naturais recentes no Brasil. A comunidade científica considera que o aquecimento global seria a principal razão dessas catástrofes, cada vez mais frequentes. O aquecimento global é considerado o maior desafio da humanidade em todos os tempos. A obediência ao Acordo de Paris, que visa evitar que a temperatura mundial suba acima de 1,5o C, é fundamental para o Brasil e o mundo. É indispensável evitar que acúmulo de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nítrico, entre outros, continue se exacerbando. Segundo a comunidade científica, entretanto, os eventos climáticos extremos tendem a se tornar ainda mais frequentes e medidas de urgência, como a transferência das populações localizadas em encostas, são imprescindíveis para evitar mais mortes. Um único alento se pode constatar nessa tragédia: o presidente da República e o governador de São Paulo, adversários políticos, apareceram juntos exemplificando que a soma de esforços é indispensável para enfrentar esse e outros problemas de tamanha magnitude. A campanha política acabou, os desafios nacionais e mundiais são impositivos e exigem essa soma de esforços para que a população, principalmente a mais carente, não seja ainda mais sacrificada.

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