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Nº 5759
Opinião

Vila Morena

EDUARDO BOMFIM * Nessa quinta-feira passada, (25), comemorou-se mais um aniversário da revolução dos cravos em Portugal. Fechava-se a cortina de uma asfixiante ditadura sob a batuta de Antônio de Oliveira Salazar, sobrevivendo alguns anos após a sua mort

Por | Edição do dia 26/04/2002 - Matéria atualizada em 26/04/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM * Nessa quinta-feira passada, (25), comemorou-se mais um aniversário da revolução dos cravos em Portugal. Fechava-se a cortina de uma asfixiante ditadura sob a batuta de Antônio de Oliveira Salazar, sobrevivendo alguns anos após a sua morte em 1970. Um regime com características políticas fascistas. O País tinha mergulhado em uma longa noite que durou dezenas de anos de feudalismo cultural e de repente abria-se, iluminava-se para a liberdade, a utopia social e uma busca ansiosa pelo tempo perdido. Quase que se tornou socialista. Adernou para governos conservadores, cambaleou para o centro, foi, veio e continua à procura do seu rumo verdadeiramente progressista e popular. Mas a revolução, definitiva, entrou para a História e mereceu realmente o seu nome: um País que desabrochava para a vida assim como um cravo. Belíssima, emocionante, contagiante. “A revolução dos cravos”. Para nós que permanecíamos sob a ditadura, quase que tinha cheiro e sabor. Ganhou um hino através da música do compositor português José Afonso. “Grândola, Vila Morena”. “Grândola Vila Morena, terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena, dentro de ti ó cidade”, diziam os versos, muitas das vezes cantados por multidões sem auxílio de instrumentos musicais. O Brasil reconciliou-se com a democracia, após muita resistência e brava luta, em 1985. Mas, como Portugal, achávamos em nosso imaginário que “todos os problemas brasileiros seriam solucionados com relativa facilidade se conseguíssemos levar a bom termo a transição democrática, a luta pelo fim do regime militar. Era um diagnóstico indigente. Retornamos à democracia e os problemas se acumularam. O futuro revelou-se cheio de dúvidas e novos problemas. A confiança foi ainda mais abalada”. Esta é a interpretação do economista Carlos Lessa, eleito recentemente, através de expressiva votação, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Brasil e Portugal continuam insatisfeitos em busca dos seus respectivos futuros. Que sejam socialmente justos para as maiorias deserdadas, oprimidas. Porque, como dizem acacianamente, “uma cosia é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Vejam o quadro político atual em nosso País. Parece que a sociedade despertou com vigor e demonstra através de todos os institutos de pesquisas, sem exceção, que desejam pôr um fim neste vampiresco sistema econômico e social, denominado neoliberalismo. O senhor Renato Guimarães, em recente artigo na “Folha de São Paulo” sintetizou um contundente e correto ponto de vista ao afirmar que “eles podem muito mas não podem tudo”. Referia-se aos autores do frustrado golpe na Venezuela. Mas cai como uma luva na realidade nacional. Enfim, não surgindo acidentes de percurso, casuais ou provocados, poderemos avançar para melhores dias e novos desafios, não tenhamos dúvidas. Como os portugueses, somos peregrinos pelos caminhos dos versos da “Vila Morena”. (*) É ADVOGADO

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