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Nº 5822
Opinião

Pitboys e impunidade

DOUGLAS APRATTO TENÓRIO * As cenas de espancamento divulgadas pela imprensa na última semana envolvendo jovens em boates de Maceió, provocadas pelos chamados “pitboys”, revelam que essa variante da tragédia urbana, sempre vista e imaginada à distância, n

Por | Edição do dia 27/01/2005 - Matéria atualizada em 27/01/2005 às 00h00

DOUGLAS APRATTO TENÓRIO * As cenas de espancamento divulgadas pela imprensa na última semana envolvendo jovens em boates de Maceió, provocadas pelos chamados “pitboys”, revelam que essa variante da tragédia urbana, sempre vista e imaginada à distância, no Rio, São Paulo e Brasília, chegou em nossa cidade, atingindo nosso outrora pacato mundo, nossa própria casa. Há cerca de dois anos, uma conhecida escritora e professora da Ufal teve o seu filho barbaramente agredido, sem motivo algum, por um jovem da chamada “sociedade”, que comandava um desses grupos de desordeiros. A vítima era um rapaz pacato, estudioso, voltado às letras e às coisas do espírito. Movida por indignação e coragem cívica, desaconselhada por muitos, a mãe levou o agressor e seus cúmplices à justiça. A pena leve e a opinião de alguns para “deixar pra lᔠcertamente mostram a dificuldade em nosso meio de uma atitude ativa e positiva. Para estudiosos do comportamento humano, a escalada da violência urbana que se vê em todo o mundo, nas grandes cidades, estaria associada ao crescente uso das drogas, aos desajustes sociais, à falta de trabalho e às graves distorções na distribuição de renda. Com certeza, todas essas correntes, mesmo que tragam algumas divergências entre si, têm suas razões. No caso, porém, desses exemplos ocorridos com jovens de classe média, não corresponde. Afinal os responsáveis desfrutam de boa situação econômica e vêm de família com poder político e financeiro. Há no quadro geral, e especificamente com a violência dos “pitboys”, um item que seguramente une todos esses teóricos e parece exercer uma preocupação menor: A IMPUNIDADE. É a impunidade que, atingindo praticamente todos os segmentos da população, faz a polícia impotente, faz da justiça arremedo de suas próprias obrigações e, da sociedade, um monumento à omissão, vítima e participante da sistemática violência. Há 200 anos o pensador italiano Cesare Beccaria alertava para o perigo de medidas punitivas, justas e criteriosas, dizendo que o importante não era o tamanho da pena, mas a certeza da punição. “Um dos maiores freios dos delitos – ensinava ele – não é a crueldade das penas, mas a sua infalibilidade”. A banalização da violência, a convivência com a angústia e a permanente tensão, que fazem de cada um de nós vítima permanente do medo, do pânico que se instala em cada casa, em cada família, com a demora dos filhos quando saem, mostram que, dois séculos depois, nada aprendemos da preciosa lição ensinada pelo famoso jurista italiano. (*) É HISTORIADOR

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