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Nº 5821
Opinião

Lutero II

DOM EDVALDO G. AMARAL * Lutero nasceu em Eisleben na Saxônia (região da Alemanha, então dividida em reinos e condados) no dia 10 de novembro de 1483. Foi batizado no dia seguinte, festa de S. Martinho de Tours, recebendo por isso o nome de Martinho Luthe

Por | Edição do dia 28/01/2005 - Matéria atualizada em 28/01/2005 às 00h00

DOM EDVALDO G. AMARAL * Lutero nasceu em Eisleben na Saxônia (região da Alemanha, então dividida em reinos e condados) no dia 10 de novembro de 1483. Foi batizado no dia seguinte, festa de S. Martinho de Tours, recebendo por isso o nome de Martinho Luther, o mesmo que Lotário, é o nome de um dos netos de Carlos Magno. Significa “puro”, “sincero”. Seu pai, Hans, era um camponês e depois mineiro de cobre. Sua mãe, Margarida Ziegler, era originária da Francônia (outra região também da Alemanha). Com um pai violento, que chegou a espancar um camponês, seu empregado, até matá-lo, Lutero teve educação muito rígida. Em casa, cantavam muito e lia-se a Imitação de Cristo em manuscrito. Fez os estudos elementares em Mansfeld, onde havia mais castigo que estudo. Aí estudou o “trivium”: ler, contar e aprender latim. Era coroinha da igreja, gostava das procissões e estudava muito o catecismo. Em Erfurt, fez estudos superiores de Direito e leu a Bíblia por inteiro. Em 1505, viajava com um amigo quando, em meio a uma terrível tempestade, um raio matou seu companheiro de viagem. Aterrorizado, Lutero bradou: “Livrai-me, Senhora Sant’Ana, que eu me faço frade!” O pai Hans com a rudeza de sempre comentou: “Não sei se essa tal vocação vem de Deus ou do Diabo!” Naquele ano, em 17 de julho, entrou no convento dos agostinianos em Erfurt e logo foi considerado pelos superiores com um novo S. Paulo. Presentearam-lhe uma Bíblia, ricamente encadernada, com a recomendação de lê-la freqüentemente. Parece que já nesse tempo começaram a aparecer seus ataques epilépticos. Certo dia, quando ouviu ler no evangelho a cura de um possesso, caiu histérico no chão, bradando: “Não sou eu, não sou eu!” Ordenado sacerdote em 1507; mestre em filosofia 1508, doutor em Teologia em 1512. Antes disso, porém, realizou uma viagem a Roma em 1510, que marcou para sempre suas idéias religiosas e seu comportamento para com a Sé Apostólica. Quis estudar lá, não lhe foi permitido; quis andar sem hábito, com vestes seculares, foi-lhe negado. Era papa Júlio II e ainda se comentava muito o comportamento indigno do papa Alexandre VI, dos Bórgia. Admirou-se do grande número de indulgências da Escada Santa (fato que o filme acentua com cores fortes) e nas quatro semanas em que lá esteve, escandalizou-se com o comportamento do clero e altos dignitários da Igreja. Voltando para sua cátedra de teologia na Alemanha, começou a fatal evolução de seu espírito, que se resume nestas palavras de um bom historiador: muito trabalho intelectual com pouca ou nenhuma oração, desprezo da observância religiosa e das normas da ascética, desconhecimento da teologia escolástica, unido a um desprezo por S. Tomás de Aquino, orgulho e teimosia, com a firme convicção de que era chamado por Deus para realizar “grandes coisas” na Igreja. Aí está o quadro completo da formação de um heresiarca, com a pretensão de reformar a Igreja, porque todos estavam errados e só ele possuía a verdade. A pregação das indulgências, promulgadas por Leão X para recolher fundos para a construção daquela que seria “a Catedral da Cristandade” foi o estopim da revolta luterana. Na Alemanha foi confiada ao dominicano João Etzel, o que já desagradou os agostinianos, liderados por Lutero, uma vez que eles (e ele) se julgavam mais competentes. Etzel cometeu os maiores desatinos teológicos e pastorais, acentuando ao extremo a ligação do pagamento com a liberação da alma do Purgatório, a ponto de o papa suspendê-lo da missão. Mas isso não foi suficiente para acalmar os ânimos. Na véspera da festa de Todos os Santos de 1517, Lutero afixava na porta da igreja da Universidade de Wittemberg suas famosas 95 teses. É a data inaugural do Protestantismo e a separação definitiva do monge agostiniano da Igreja de Roma. Continuaremos no próximo artigo. I – Lutero – o filme e a história II - Lutero – monge e teólogo III - Lutero - depois da excomunhão IV - Lutero – o fim (*) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ

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