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Nº 5821
Opinião

Noites de Agonia

RONALD MENDONÇA * A despeito dos gentis convites do amigo Eduardo Lyra não estarei presente ao desfile do bloco carnavalesco Pinto da Madrugada. Ovo fértil do pernambucano Galo da Madrugada, leio pelos jornais que o Pinto é o que há de mais autêntico do

Por | Edição do dia 29/01/2005 - Matéria atualizada em 29/01/2005 às 00h00

RONALD MENDONÇA * A despeito dos gentis convites do amigo Eduardo Lyra não estarei presente ao desfile do bloco carnavalesco Pinto da Madrugada. Ovo fértil do pernambucano Galo da Madrugada, leio pelos jornais que o Pinto é o que há de mais autêntico do carnaval alagoano. Do jeito que está crescendo, breve, breve, virará um vistoso frango. Como o desanimado escriba, que não se sente atraído para esbaldar-se ao som de frevos e maracatus, muitos conterrâneos neste 2005 marcarão distância do evento. É que nos últimos tempos vários de nós concluíram que não têm o que comemorar. Dona Ana Lídia Vasconcelos vive este momento. Matriarca de um clã que se destaca pela serenidade, mulher de irremovível Fé, Dona Ana Lídia está passando por mais uma provação: recentemente, um dos seus netos foi covardemente ferido numa boate de Maceió. A barbárie aumentou o clima de revolta, escancarando ainda mais a sensação de desamparo que paira sobre a comunidade. De fato, Maceió está um poço de insegurança. Sem terem a quem apelar, pais e avós hoje acompanham apavorados as saídas dos filhos agarrados a santinhos e patuás. A agressão ao neto de Ana Lídia jamais poderá ser considerada mera casualidade do destino. É que o agressor é um velho conhecido da crônica policial, contumaz reincidente nesse tipo de infração. Dói saber que as frouxas leis do país são um estímulo a esse tipo de comportamento. Pior de tudo é não se ver uma palha sendo movida para tentar reverter esse estado de coisas. (Nossos doutos juristas pensam em afrouxar mais ainda!). Diante dessa esquizofrênica abulia geral, ninguém sabe até quando as famílias afrontadas irão resistir à tentação de fazer justiça com as próprias mãos. Afinal de contas, não se criam filhos para servir de sacos de pancada de bandidos. A verdade é que espancamentos e assassinatos praticados pela classe média há muito deixaram de ser fatos isolados. Com efeito, viraram rotina ações marginais praticadas por grupos que se põem acima da lei, transformando as noites maceioenses em peças de suspense e horror. Não faz um mês, um garoto foi assassinado na porta de uma casa noturna por motivos irrelevantes. Por coincidência, estive perto da mãe do acusado, que, na contramão das evidências, garantia que o filho era inocente. Por mais que seja duro para uma mãe visitar um filho preso por assassinato, nem de longe se compara à dor de pais que se deparam com um filho mutilado. Nada, contudo, se iguala ao indescritível sofrimento de aninhar nos braços um filho sem vida. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL

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