RETROCESSO .
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Por Editorial | Edição do dia 03/05/2023 - Matéria atualizada em 03/05/2023 às 04h00
A sétima edição do Simpósio Internacional de Imunobiológicos, aberta ontem no Rio de Janeiro, alerta para o risco alto da volta da poliomielite ao Brasil. A doença, erradicada no país desde 1989, pode matar ou provocar sequelas motoras graves. Em um dos debates do dia, pesquisadores apontaram a baixa cobertura como principal motivo de preocupação com a paralisia infantil, como a doença também é conhecida.
Para especialistas, esse cenário foi provocado por um conjunto de fatores, que incluem o processo de imigração constante, com baixas coberturas vacinais, a continuidade do uso da vacina oral, saneamento inadequado, grupos antivacinas e falta de vigilância ambiental. Um estudo do Comitê Regional de Certificação de Erradicação da Polio 2022, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), aponta o Brasil como segundo país das Américas com maior risco de volta da poliomielite, atrás apenas do Haiti. Um caso recente da doença foi confirmado em Loreto, no Peru, o que aumentou a vigilância nas fronteiras. Segundo o Ministério da Saúde, no ano passado, a cobertura vacinal para a doença no Brasil ficou em 77,16%, muito abaixo da taxa de 95% recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impedir a circulação do vírus. Entre 1968 e 1989, o Brasil contabilizou mais de 26 mil casos de poliomielite, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. A primeira campanha nacional de imunização contra a poliomielite foi lançada oficialmente em 1980. O Brasil foi pioneiro em vários aspectos e lançou algumas estratégias que fizeram muita diferença no engajamento da população, avaliam os especialistas. Entretanto, nos últimos anos o País tem registrado uma queda na cobertura vacinal não apenas no caso da pólio. Na base de dados do Sistema Único de Saúde, o DataSUS, é possível encontrar mais de uma dezena de cidades cuja cobertura vacinal nem chega aos 10% — em mais de 900 delas, o índice não alcança os 50%. A queda nacional no número de vacinados é real e preocupante, e o poder público, em todas as suas instâncias, precisa agir rápido e eficientemente para reverter esse quadro.