loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
quarta-feira, 25/06/2025 | Ano | Nº 5996
Maceió, AL
29° Tempo
Home > Opinião

Opinião

A DOR E O AMOR DO TRABALHO .

.

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

Sempre fiquei intrigado com a questão da dor e o trabalho.

Noto que a dor sempre esteve relacionada com sentido do trabalho.

A palavra trabalho deriva de “tripálio”, em latim tripalium, era um instrumento feito de três paus afiados, algumas vezes ainda com pontas de ferro, no qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de milho, para rasgá-los, esfiapá-los. A maioria dos dicionários, contudo, registra tripálio apenas como instrumento de tortura, o que teria sido originalmente, ou se tornado depois.

Ainda, Tripálio (do latim tardio “tri” (três) e “palus” (pau) - literalmente, “três paus”) é um instrumento romano de tortura, no qual eram supliciados os escravos. Daí derivou-se o verbo do latim vulgar tripaliare (ou trepaliare), que significava, inicialmente, torturar alguém no tripálio.

É comumente aceito, na comunidade linguística, que esses termos vieram a dar origem, no português, às palavras “trabalho” e “trabalhar”, embora no sentido original o “trabalhador” seria um carrasco, e não a “vítima”, como hoje em dia.

Talvez seja por esse motivo que o vocábulo trabalho sempre esteve relacionado com o sentido de sacrifício, não é? E isso chega até os dias de hoje. Notem. Quem não ouviu alguém falar: “Puxa vida, tenho que trabalhar!” Ainda que nas pequenas frases aparentemente inocentes, verificamos o conteúdo subliminar de sacrifício, de dor, de esforço martirizante relacionado ao trabalho e, por consequência, no ato de trabalhar.

E indo longe nessa reflexão, notem os nomes: trabalhaDOR. Seria aquele que vende dolorosamente sua força de trabalho para terceiros? E a dor do trabalho é exclusiva do trabalhador? Não! Vejam o significado de empregaDOR. Seria aquele que sofre que também sente dor para proporcionar trabalho a outrem?

Sempre fiquei curioso com essa questão da dor e o trabalho. Nesse sentido, penso que Karl Marx foi o filósofo da dor. E até ele deve ter sofrido para executar seu ofício, afinal foi um pensaDOR!

E veja que não é só o empregador e o trabalhador que sentem a dor do trabalho, no trabalho com vínculo de emprego. Para quem trabalha sem vínculo de emprego, prestando serviços, por exemplo, está lá presente a dor do trabalho, afinal de contas é um prestaDOR de serviços. Não é?

E o que dizer do serviDOR público? Seria aquele que serve ao cidadão através da execução da DOR do seu esforço, que se chama trabalho?

É certo que existe trabalho sem dor, o trabalho com prazer. É verdade que alguns trabalham porque adoram, amam trabalhar, não é? Eis a outra face da mesma moeda, o trabalho realizado com prazer, com amor. Venhamos e convenhamos, existe muita gente que trabalha feliz da vida, aliás, até sem sentir que trabalha, de tão feliz que trabalha. Não neguemos, pois, a felicidade do trabalho.

Mas a origem do vocábulo trabalho nos remete à questão da dor. Foi assim que se construiu ao longo da sua história, e por esse motivo que faço essa reflexão. A história do trabalho está mais atrelada à dor do que ao amor. Assim sinto. Por isso me chama atenção a relação entre trabalho e dor.

O trabalho, depois do nome, é o elemento que identifica o ser humano frente a outro, na sociedade. Depois que dizemos nosso nome, a pergunta seguinte é: “E o que você faz...?” Não é assim? Querem saber o nosso ofício, a nossa profissão. Vejam a importância do trabalho para a psique humana, inclusive. Quem não trabalha praticamente perde sua identidade. O trabalho é o RG da alma.

Mas tanto faz se é trabalho com ou sem dor, com ou sem prazer, como ou sem felicidade.

O que interessa é comemorar o 1º de maio, independentemente de o trabalho ser realizado com dor ou com amor.

Relacionadas