Opinião
O erro e o homem .
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O filósofo Plutarco (século II) escreveu: “O ser humano não pode deixar de cometer erros; é com os erros que os homens de bom senso aprendem a sabedoria para o futuro”. Essa é uma entre tantas frases que entraram para a história dentro daquela máxima popular tão corriqueira e que todos dizem a toda hora: “errar é humano”. E como é humano…
Quem hoje, mesmo depois de algumas dezenas de anos vividos, pode dizer e garantir que nunca errou ou que já errou muito e agora está mais sensato e comete menos erros? Os fatos do dia a dia que nos cercam - seja aqui em nosso país como no mundo e mesmo na Europa, a nossa referência ocidental de civilidade - insistem em nos mostrar que a realidade que nos cerca, tanto na vida privada, como na pública, se notabiliza pelo cometimento de erros que prejudicam tanto à nós mesmos como a comunidade. Podemos usar como exemplos nacionais recentes para isso a evolução da pandemia de Covid-19 no Brasil e os inúmeros desdobramentos considerados ilegais pelo Judiciário do processo político de 2023. Mas o exemplo maior e mais trágico de erro humano recente, e que beira a irracionalidade está na civilizada Europa, concretizado com a invasão da Ucrânia pela Rússia, uma tragédia imensa ocorrida em pleno século 21 e não nas eras napoleônicas ou hitleristas. O escritor britânico Alexander Pope (século XVIII) tem uma ideia que nos ajuda imensamente a pensar o lugar do erro dentro das nossas práticas. Ele dizia que “um homem nunca deve ter vergonha em admitir que errou”. O que significa dizer em outros termos, que hoje ele é mais inteligente do que era ontem. Alguém que é capaz de admitir o erro está indicando que ganhou um nível maior de inteligência. Está, portanto, em um patamar superior ao que estava. Esta é uma das grades vantagens da nossa espécie, aquilo que chamamos consciência, isso é, não só saber algo, mas saber que sabe. Mas se não saber algo, também saber que não sabe. Na área da ciência, a admissão de um erro é decisiva para que haja maior eficácia, mais autenticidade, maior credibilidade. Um cientista, um pensador ou um profissional de qualquer ramo que lida com o campo do pensamento precisa ter clareza da necessidade de se preparar para admitir erros. Não só porque é uma demonstração de inteligência, mas também de decência. Em um mundo próximo do ideal e da perfeição, que só se encontraria na religião, reconhecer os erros, essa virtude tão peregrina, deveria ter como prêmio natural algo como a redução de penalizações ou mesmo o perdão. Isso ajudaria o homem a refletir e procurar corrigir seus erros, embora, em se tratando do ser humano, nada nos garantiria que isso seria um fato consumado.