Lutero (III)
DOM EDVALDO G. AMARAL SDB * As 95 teses que Lutero expôs na porta da igreja de Wittemberg dividem sua vida em duas partes: monge e teólogo católico na 1a e reformador religioso e agitador social na 2a. Havia nelas, diz J. Marx, historiador alemão,
Por | Edição do dia 04/02/2005 - Matéria atualizada em 04/02/2005 às 00h00
DOM EDVALDO G. AMARAL SDB * As 95 teses que Lutero expôs na porta da igreja de Wittemberg dividem sua vida em duas partes: monge e teólogo católico na 1a e reformador religioso e agitador social na 2a. Havia nelas, diz J. Marx, historiador alemão, nosso texto de aula, idéias confusas sobre as indulgências (que a Igreja ensina como perdão da pena devida pelos pecados já perdoados), abusos reais ou imaginários na pregação dessas indulgências; negação do poder da Igreja de perdoar pecados; obscuridades e contradições flagrantes, em parte por ignorância de seu autor, em parte pelo temor de ser acusado como herege. Um exemplo: as teses 71 e 72 afirmam que seja maldito quem pregar contra a indulgência papal, porém, seja bendito quem pregar contra a petulância dos pregadores de indulgências; a tese 5 ensina que o Papa só pode perdoar as penas canônicas e os pecados reservados. As tais teses repetem objeções populares: Por que o Papa não esvazia de vez o Purgatório com o tesouro dos méritos de Cristo, da Virgem e dos Santos? Por que ele não constrói a basílica de S. Pedro com seu próprio dinheiro, sendo ele mais rico que Creso? Em 1518, começa o processo em Roma. Intimado a comparecer, Lutero obtém de ser ouvido em Augusta, perante o Card. Legado Vio Caetano. Não se retratou. Exigiu um Concílio ecumênico, feito a seu gosto, isto é, sem obediência ao Papa e com leigos decidindo. Em 15 de junho de 1520, foi promulgada a bula de sua condenação Exsurge, Domine, que devia ser executada pelos príncipes alemães. Ao contrário, estes o apoiaram, dando-lhe um salvo-conduto para não ser preso. Em 10 de dezembro daquele ano, os estudantes da Universidade de Wittemberg fizeram uma grande fogueira de todos os livros do Direito Canônico. Lutero aproveitou a manifestação para queimar em público a bula papal de sua condenação. De volta da dieta de Worms, quando estava para terminar o salvo-conduto, sob ordens do príncipe da Saxônia, cavaleiros mascarados o levaram ocultamente para Wartburg com o nome de cavaleiro Jorge. (O filme destaca este episódio). Neste ano de 1520, escreveu os livros que marcam sua definitiva separação da Igreja: O Papado em Roma - Discurso sobre o Novo Testamento - À nobreza cristã da nação germânica (finalidade: abater as 3 muralhas do romanismo: distinção entre clérigo e leigo; interpretação oficial da Bíblia direito do Papa de convocar Concílio ecumênico o celibato clerical - o direito canônico - os gravamina nationis germanicae, os agravos da nação germânica); De captivitate babilonica contra o latim, a transubstanciação, os 7 sacramentos, sobrando só o Batismo, a Ceia e a Penitência, esses dois a seu modo; Liberdade do cristão contra a eficácia das boas obras. Dizia naquela época: Crede fortiter, pecca fortiter Basta a fé: crê fortemente e peca fortemente. Em Wartburg, afastava como insinuações do demônio as dúvidas sobre suas posições contra a Igreja. Aí ainda escreveu: Juízo sobre os votos monásticos que despovoou os conventos, sobretudo da Alemanha (onde, dizia um historiador, havia frades demais...), Da abolição da missa privada ambos em latim. Enquanto isso, começavam as desgraças: padres e freiras se casavam, destruíam-se as imagens dos santos, celebrava-se missa em alemão e não havia jejum desde a meia-noite para a comunhão, que era sob ambas as espécies. Essas 3 últimas, afinal, hoje são coisas pacíficas na Igreja... (Conclui na próxima edição) (*) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ