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Nº 5821
Opinião

Lutero (III)

DOM EDVALDO G. AMARAL SDB * As 95 teses que Lutero expôs  na porta da igreja de Wittemberg  dividem sua vida em duas partes:  monge e teólogo católico na 1a e reformador religioso e agitador  social na 2a. Havia nelas, diz J. Marx, historiador alemão,

Por | Edição do dia 04/02/2005 - Matéria atualizada em 04/02/2005 às 00h00

DOM EDVALDO G. AMARAL SDB * As 95 teses que Lutero expôs  na porta da igreja de Wittemberg  dividem sua vida em duas partes:  monge e teólogo católico na 1a e reformador religioso e agitador  social na 2a. Havia nelas, diz J. Marx, historiador alemão, nosso texto de aula, idéias confusas sobre as indulgências (que a Igreja ensina como perdão da pena devida pelos pecados já perdoados), abusos reais ou imaginários na pregação dessas indulgências; negação do poder da Igreja de perdoar pecados; obscuridades e contradições flagrantes, em parte por ignorância de seu autor, em parte pelo temor de ser acusado como herege. Um exemplo: as teses 71 e 72 afirmam que seja maldito quem pregar contra a indulgência papal, porém, seja bendito quem pregar contra a petulância dos pregadores de indulgências; a tese 5 ensina que o Papa só pode perdoar as penas canônicas e os pecados reservados. As tais teses repetem objeções populares: Por que o Papa não esvazia de vez o Purgatório com o tesouro dos méritos de Cristo, da Virgem e dos Santos? Por que ele não constrói a basílica de S. Pedro com seu próprio dinheiro, sendo ele mais rico que Creso? Em 1518, começa o processo em Roma. Intimado a comparecer, Lutero obtém de ser ouvido em Augusta, perante o Card. Legado Vio Caetano. Não se retratou. Exigiu um Concílio ecumênico, feito a seu gosto, isto é, sem obediência ao Papa e com leigos decidindo. Em 15 de junho de 1520, foi promulgada a bula de sua condenação “Exsurge, Domine”, que devia ser executada pelos príncipes alemães. Ao contrário, estes o apoiaram, dando-lhe um salvo-conduto para não ser preso. Em 10 de dezembro daquele ano, os estudantes da Universidade de Wittemberg fizeram uma grande fogueira de todos os livros do Direito Canônico. Lutero aproveitou a manifestação para queimar em público a bula papal de sua condenação. De volta da dieta de Worms, quando estava para terminar o salvo-conduto, sob ordens do príncipe da Saxônia, cavaleiros mascarados o levaram ocultamente para Wartburg com o nome de “cavaleiro Jorge”. (O filme destaca este episódio). Neste ano de 1520, escreveu os livros que marcam sua definitiva separação da Igreja: “O Papado em Roma” - “Discurso sobre o Novo Testamento” - “À nobreza cristã da nação germânica” (finalidade: “abater as 3 muralhas do romanismo: distinção entre clérigo e leigo; interpretação oficial da Bíblia – direito do Papa de convocar Concílio ecumênico – o celibato clerical - o direito canônico - os ‘gravamina nationis germanicae’, os agravos da nação germânica”); “De captivitate babilonica” contra o latim, a transubstanciação, os 7 sacramentos, sobrando só o Batismo, a Ceia e a Penitência, esses dois a seu modo; “Liberdade do cristão” – contra a eficácia das boas obras. Dizia naquela época: “Crede fortiter, pecca fortiter” – Basta a fé: crê fortemente e peca fortemente. Em Wartburg, afastava como insinuações do demônio as dúvidas sobre suas posições contra a Igreja. Aí ainda escreveu: “Juízo sobre os votos monásticos” que despovoou os conventos, sobretudo da Alemanha (onde, dizia um historiador, havia frades demais...), “Da abolição da missa privada” – ambos em latim. Enquanto isso, começavam as desgraças: padres e freiras se casavam, destruíam-se as imagens dos santos, celebrava-se missa em alemão e não havia jejum desde a meia-noite para a comunhão, que era sob ambas as espécies. Essas 3 últimas, afinal, hoje são coisas pacíficas na Igreja... (Conclui na próxima edição) (*) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ

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