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Vinícius Júnior e o racismo .

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“Racismo: das cruzadas ao século XX”, de Francisco Bethencourt, é uma obra de referência para tentar entender essa mazela que tanto humilha a humanidade. O autor faz uma análise histórica, abrangente e compreensível do racismo – um fenômeno relacional que sofre alterações com o tempo e não pode ser compreendido em sua totalidade através de estudos segmentados em breves períodos de regiões especiais ou vítimas recorrentes, como é o caso do jogador Vini Jr.

Formas de racismo que precederam as teorias de raça, observando-as no contexto de hierarquias sociais e condições locais, configuram o argumento de que essa coisa abominável em suas várias modalidades e aspectos foi sempre provocada por projetos de monopolização de recursos. A obra ajuda a entender por que o racismo é tão agressivo e desavergonhado nos campos espanhóis: a crise na Europa nas últimas décadas fez aumentar a rejeição aos imigrantes e, como consequência, o crescimento da extrema-direita, que na Espanha é representado pelo partido VOX, a sua terceira força política, que tem braços entre os ultras nas arquibancadas. O VOX é o herdeiro político do franquismo. O atual presidente da Liga Espanhola é filiado ao VOX, sendo os casos de racismo frequentes nos estádios de futebol espanhóis. O racismo, como a xenofobia e a homofobia, tem uma ideologia associada.

Existe conivência e omissão das autoridades e da Liga espanhola com essa barbaridade? O Estatuto da Federação Espanhola tem dispositivos que punem com rigor os clubes que permitem o racismo em campo, e existe o crime de ódio no Código Penal espanhol, mas, apesar das renitentes manifestações racistas, não se usou a Legislação adequadamente. Outras ligas, como a inglesa e a alemã, jogam duro com casos assim e os próprios clubes colaboram com a identificação dos torcedores radicais e os punem com rigor. Quem não lembra do caso dos violentos Hooligans nos campos da Inglaterra, que quase inviabilizaram a Premier League? Providências rigorosas foram tomadas contra eles e hoje ela é a Liga mais forte do mundo.

O jogador de futebol, como qualquer outro atleta, deve enfrentar os desafios dentro da arena. Enfrentar também uma arquibancada lunática não faz parte da competição esportiva, isso é extrema deslealdade e covardia contra um atleta. O caso de Vinícius Júnior não é o primeiro nem o será o último e vai continuar acontecendo durante muito tempo ainda, conforme previsão de Bethencourt em sua obra. Isso porque faltam leis ou, se elas existem, falta policiamento ou interesse político para fazer com que funcionem. Hoje, existe tecnologia de identificação de indivíduos suficiente para detectar os radicais, e o diferencial agora é que os negros estão mais conscientes e o Vinícius Júnior, além de ser um jogador excelente, é um indivíduo muito feliz, alegre, um cara que esbanja felicidade e realizações. O que faz com que muita gente que se sente infeliz e frustrada se revolte contra ele. Só que, além disso, ele é um homem que está consciente de sua posição racial e isso incomoda mais do que aqueles que não têm uma consciência sobre o racismo. E ele tem isso muito claro e está militando. Ninguém deve ser tratado dessa forma.

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