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Nº 5595
Opinião

Paradoxo da tolerância .

A expressão da opinião é uma das bases de sustentação de uma sociedade democrática. Essencialmente, ela garante a todas as pessoas o direito de exprimir a suas opiniões. A pluralidade de uma sociedade concede-lhe uma multiplicidade de pensamentos, e daí é

Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 22/07/2023 - Matéria atualizada em 22/07/2023 às 04h00

A expressão da opinião é uma das bases de sustentação de uma sociedade democrática. Essencialmente, ela garante a todas as pessoas o direito de exprimir a suas opiniões. A pluralidade de uma sociedade concede-lhe uma multiplicidade de pensamentos, e daí é fundamental que essa sociedade democrática conte com um ingrediente básico: a tolerância. É a tolerância que determina o que devemos estar dispostos a ouvir e conviver, mesmo que sejam com opiniões e manifestações divergentes das nossas.

Todavia, quando essa opinião divergente tem justamente como pano de fundo a intolerância, como quando prega que determinado grupo étnico deve ser suprimido ou que pessoas precisam ser punidas por sua orientação sexual, ou quando incita violência e ódio, e mesmo a abolição da democracia, que na essência permite as opiniões e manifestações de divergência, como devemos proceder? Podemos ser tolerantes com os intolerantes?

O filósofo austríaco Karl Popper (1902-1994) debruçou-se sobre esse tema e chegou ao chamado “paradoxo da tolerância”, que apareceu inicialmente em seu livro “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, publicado em 1945 e fruto de suas experiências frente aos movimentos totalitários do século XX . Afinal, a tolerância tem limites?

Para o filósofo, ao aceitar os intolerantes, os tolerantes - e a chamada sociedade tolerante - podem ser levados à destruição. Isso porque uma tolerância ilimitada se torna vulnerável a qualquer tipo de ataque intolerante que se disfarce sob o discurso de liberdade de expressão. Escreveu: “A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”.

Para ser tolerante, então, deve-se em alguma medida ser intolerante. Então não há espaço para o debate dessas ideias ou mesmo existência de opiniões divergentes? Karl Poperr responde: “Não é bem assim, a prioridade deve ser combater ideários intolerantes com argumentos sólidos e com os fatos. Mas se isso é infrutífero, o combate mais incisivo às filosofias intolerantes não deve ser uma opção descartada – sobretudo quando a única resposta desse grupo é o discurso de ódio e a violência. Devemos nos reservar o direito de contê-los, se necessário, mesmo que pela força das leis. Pode ser que eles, os intolerantes, não estejam preparados para dialogar nos níveis dos argumentos racionais”.

A intolerância dos grupos extremistas no Brasil já ultrapassou todos os limites, os argumentos, as evidências e os fatos não os contiveram. Eles continuam usando o ódio e a violência para perseguir e intimidar autoridades públicas, sem respeitar nem seus familiares. O Brasil precisa restaurar a institucionalidade democrática e ser pacificado. Com serenidade, mas com firmeza, tornou-se inevitável e inadiável usar o rigor das leis para coibir essas agressões e hostilidades, sejam às autoridades ou a qualquer cidadão por mais humilde que o seja.

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