COMENDAS E COMENDADORES .
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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 26/08/2023 - Matéria atualizada em 26/08/2023 às 04h00
Na obra “Machado de Assis, seus trinta melhores contos”, está “ A teoria do medalhão”. Em resumo, é um diálogo que se dá entre pai e filho após o jantar de 21 anos deste, ocasião na qual o pai aconselha o filho a se tornar um Medalhão, ou seja, alguém que consegue conquistar riqueza e fama. Ele passa, então, a tecer uma teoria de como o filho conseguiria isso, aconselhando-o a mudar seus hábitos e costumes, anulando seus gostos e opiniões pessoais. O filho deveria sempre se manter neutro perante tudo, possuir um vocabulário limitado, conhecer pouco, e sempre preferir um humor mais simples e direto ao invés da ironia, que requeria certo raciocínio e construção imaginativa. Era uma crítica à sociedade brasileira, que moldaria o perfil da mediocridade/hipocrisia para o cidadão obter o sucesso e assim ser “medalhado”.
As comendas têm a sua origem na Idade Média, elas eram outorgadas aos guerreiros por suas valentias e vitórias em batalhas ou aos religiosos por suas evangelizações. Geralmente, eram concedidas em forma de bens materiais, como títulos de terras. A Assembleia Legislativa do Estado contrariou A Teoria do Medalhão e concedeu comendas para cidadãos que lhes fizeram jus: brindou com a comenda Ib Gatto Falcão, o médico Dr. Alan Barbosa, que além de suas atividades profissionais sedia em sua clínica privada as sessões da Academia Alagoana de Medicina. O jurista e professor da Ufal Dr. Marcos Bernardes de Mello recebeu a comenda Omar Mello, uma homenagem também a seu saudoso filho, recente e precocemente falecido.
A comenda Divaldo Suruagy foi entregue ao presidente da Academia Alagoana de Letras, engenheiro e professor da Ufal Alberto Rostand Lanverly, pelo notável exercício à frente da entidade maior das letras alagoanas, tirando-a das comodidades de suas paredes e de seus saraus restritos aos acadêmicos e alçando-a para além dos seus muros, chegando até aos interiores dos presídios, onde, mais do que ninguém, seus reclusos precisam de livros e de solidariedade social para que possam ter chances de se recuperarem.
Finalmente, a Casa de Tavares Bastos homenageou o deputado Tarcísio de Jesus pela passagem de seu centenário de nascimento. Tarcísio de Jesus foi um político sério, honesto, cordial, desprovido de vaidades e futilidades. Ele conseguiu ser também uma liderança na educação pública e ainda foi provedor da Santa Casa de Maceió, nos seus tempos mais difíceis, quando ainda não existia o Sistema Único de Saúde (SUS) e os pacientes carentes eram catalogados como indigentes. Então, usando a sua credibilidade e seu conceito inestimáveis, Tarcísio de Jesus circulava literalmente com a cuia na mão, pedia e conseguia arrecadar a ajuda básica para mantê-la funcionando; essa instituição filantrópica que tem 172 anos de relevantes serviços prestados à comunidade alagoana.
A Assembleia Legislativa do Estado, providencialmente, nominou o seu plenário de Tarcísio de Jesus, certamente confiando que a sua postura exemplarmente ilibada de homem público possa ser uma inspiração, um guia e um modelo perenes para todos os seus pares.