Opinião
“Cogito, ergo sum” .
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A célebre frase “penso, logo existo”, formulada pelo filósofo francês René Descartes, é inspiração para estudiosos de centros de pesquisas que se debruçam sobre temas estratégicos e prospectivos.
Confessa a história que o pensador a proferiu enquanto matutava sobre uma metodologia para definir o que seria o “verdadeiro conhecimento”. Irrequieto e contestador, ao filósofo francês todas as teorias científicas acabavam por serem refutáveis e passíveis de serem substituídas por outras igualmente refutáveis. Para ele, não havia nenhuma certeza verdadeira além da certeza da existência da dúvida. Duvidou de tudo. E defendia, se existia a dúvida, estava provado que o pensamento também existia.
Jogar com os sentidos dos verbos duvidar-pensar-existir para despertar novos conhecimentos e organizá-los foi legado deixado pelo pensador e que transformou a pesquisa acadêmica, com a publicação de seu livro “Discurso do método”, em 1637.
Em 2003, o Exército brasileiro, consciente das dúvidas que assomavam no mundo do pós-guerra fria e servo dos deveres que impunha a missão de defender a soberania do país, abrigou em seu método de planejamento a análise prospectiva dos cenários futuros, passando a incorporá-la no Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX), documento que baliza a cada quatro anos a rota a ser vencida pela força. Criado naquela ocasião, do começo tateante à madureza do atual Centro de Estudos Estratégicos do Exército (www.ceeex.eb.mil.br ), vinte anos já se foram.
Nesse período de crescimento, o centro fortaleceu-se na estrutura do Estado-Maior do Exército - órgão formulador da política da força -, ao tempo em que projetou as capacidades da Instituição para além dos muros da caserna, transformando-se em referência do pensar organizado sobre os assuntos relacionados à segurança e à defesa nacionais junto ao mundo político, econômico, diplomático e acadêmico.
As dúvidas o levaram a pensar estruturado. A pensar honestamente o Exército.
O pensar honestamente e estruturado justifica o seu existir.
Entre os pesquisadores, cultiva-se a discordância leal, sadio dissenso para discussão do processo criativo das projeções prospectivas sobre as quais o Exército navega, colimando a luz da lanterna de proa em direção a um futuro de incertezas.
Nessa semana, durante as comemorações da efeméride, foram reunidos antigos integrantes do think tank a fim de oferecerem suas experiências enquanto labutavam como formuladores da organização.
O pensamento estratégico é praticado em poucos centros de excelência aqui no país e, raramente, suas conclusões transcendem os círculos especializados, afirmou um dos palestrantes.
Todavia, dentre os praticantes da seita do pensar com método (e que diuturnamente estudam o Brasil e os impactos endógenos e exógenos sobre sua caminhada), frequentemente se encontram as forças que têm o poder de moldar os cenários.
O Brasil é uma escola profícua de pensadores estratégicos com expoentes como Meira Mattos, Mário Travassos, Therezinha de Castro e Golbery do Couto e Silva.
Eles nos influenciam até hoje e muitas de suas teorias se revelaram no mundo contemporâneo como acertadas, apesar do tempo em que foram formuladas.
Modernos pesquisadores estão por aí. Não precisamos procurar como agulha no palheiro. Eles aceitarão a missão. Eles estão preparados.
Façamos um esforço conjunto, políticos, militares, diplomatas, juízes, empresários, acadêmicos, todos indistintamente, líderes dos vários segmentos da sociedade, para escrevermos o nosso discurso do método e utilizá-lo sem vaidades na organização das peças do quebra-cabeça alcunhado “destino do Brasil”.
É o ponto de partida para percorrermos o caminho que nos leve à paz e ao bem-estar sociais.
O CEEEX já assinou a petição para colaborar.