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Nº 5595
Opinião

Empatia é mais do que solidariedade

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 07/10/2023 - Matéria atualizada em 07/10/2023 às 04h00

Ele passou quase um ano com o olho ardendo e incomodando. Embora tivesse tentado denodadamente, só conseguiu o diagnóstico sobre aquele “argueiro” depois de um ano de sintomatologia. Para surpresa geral, era um carcinoma de glândula lacrimal, câncer tão raro quanto agressivo. Bem provido de recursos, buscou um grande centro nos EUA, referência internacional na especialidade oncológica. Lá, submeteu-se à uma cirurgia radical, que ressecou também a glândula parótida homolateral, pois aquele câncer já lá fizera metástases. A radioterapia adjuvante realizada na região comprometida visava inibir focos tumorais microscópicos.

A radioterapia, mesmo a mais avançada, pode ter efeitos secundários desconfortáveis quando a boca é incluída no campo de irradiação, como era o caso. Nesse período, ele só se alimentava com líquidos através de um canudinho. Mas, mesmo naqueles piores momentos de sua vida, seu pensamento viajava para muito longe dali, para os pobres de sua distante terra natal que passavam por algo semelhante e não tinham as mesmas condições de atendimento.

Essa foi a fala de Têmis Vilela, viúva de Zé Aprígio Vilela, no vídeo apresentado nesta semana pela Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) em continuidade ao Outubro Rosa. No mesmo vídeo, a Dra. Fernanda Vilela, irmã, corajosamente dissertou sobre a tendência familiar para contrair câncer, e a sua persistente busca para diagnosticar o câncer da mama, o que conseguiu precocemente ao realizar os exames preconizados, fazendo, daí, o tratamento conservador. Ela está totalmente curada.

Foi com o empenho do Zé Aprígio Vilela que conseguimos obter recursos com os empresários locais para construir a casamata que recebeu o primeiro acelerador linear com radioterapia tridimensional do Ministério da Saúde no Estado, na década de 80. Foi ele também, com o empresário Émerson Tenório, que arrecadou recursos para construir a Casa de Apoio, que, com os 40 leitos, abriga pacientes carentes do SUS que realizam seus tratamentos de câncer na Santa Casa de Maceió. As voluntárias da RFCC, que a gerenciam, em reconhecimento, deram-lhe o nome da genitora dele, Lenita Quintela Vilela, também vítima de câncer de mama, aos 53 anos.

O Outubro Rosa, objetiva alertar a população para a necessidade de fazer prevenção e diagnóstico precoce de câncer de mama e assim curar a maioria dos casos. A história do câncer no Brasil tem na participação da sociedade um emblema, e ninguém demonstrou que a solidariedade e o amor ao próximo podem ser tão sublimes como foi o caso do Zé Aprígio Vilela, que em seus momentos mais difíceis da vida, se preocupava com o que poderia ocorrer com outras pessoas, principalmente as mais humildes. Esse é o maior e mais concreto exemplo de empatia que pude comprovar em minha vida.

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