Políticas públicas eficazes para combate ao câncer de mama
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Por Bárbara Pace - presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais | Edição do dia 26/10/2023 - Matéria atualizada em 26/10/2023 às 04h00
A neoplasia maligna mamária (câncer de mama) é o tipo de câncer mais frequente (após o câncer de pele não melanoma), a principal causa de morte por câncer em mulheres e ocorre, principalmente, acima dos 50 anos. Entretanto, no Brasil, cerca de um terço dos casos afeta pessoas antes dos 50 anos e, por isso, a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o rastreamento anual com a radiografia das mamas (mamografia) a partir dos 40 anos.
A Lei nº 14.335, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2022, determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) faça exames de mamografia, citopatologia e colonoscopia a partir da puberdade. Assim, quem for diagnosticada com câncer de mama, colo uterino e colorretal, por exemplo, será melhor tratada e evitará procedimentos longos e complexos, resultando também em maior economia para o governo. Desta forma, mulheres após a puberdade, mesmo antes da faixa recomendada de rastreamento, poderão fazer exames de imagem pelo sistema público ao apresentarem sintomas ou sinais suspeitos de tumor mamário.
Historicamente, Minas Gerais, assim como o restante do país, segue muito abaixo dos 70% de cobertura populacional do exame mamográfico de rastreamento, índice mínimo indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e mesmo abaixo dos 50%, recomendado pelo Ministério da Saúde. Uma situação preocupante é que a saúde mamária foi negligenciada durante a pandemia, agravando um cenário que já estava longe do ideal, não só em relação ao diagnóstico precoce, como também ao tratamento do câncer de mama.
O debate sobre as políticas públicas para o câncer de mama é essencial, porque, em alguns casos, muitas mulheres deixam de ser assistidas pelo sistema. Na grande maioria das ocorrências, elas não são orientadas para fazer os exames adequados, ou, quando são, não ocorrem de forma correta ou apresentam baixa qualidade. Algumas delas têm lesões, até mesmo, visíveis e não conseguem entrar no sistema. É crucial um processo eficiente na rede de atenção à saúde pública.
A jornada da paciente deve ser otimizada, ou seja, as informações sobre as etapas do processo devem ser organizadas e repassadas com maior clareza, a depender dos determinantes sociais de cada pessoa ou área de abrangência do centro de saúde, onde ocorre o contato para acesso ao sistema público de saúde das doenças crônicas e da promoção da saúde. A navegação da paciente agiliza o fluxo e minimiza a espera em cada fase do diagnóstico e do tratamento. As melhorias devem ocorrer desde a prevenção, passando pelo atendimento e chegando ao tratamento em todas as partes. Em 2020, foram 1.762 óbitos de mineiras por neoplasia da mama, sendo a primeira causa de morte entre elas. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima a ocorrência de 8.250 novos casos para cada ano do triênio 2020-2022 no estado.
É fundamental alertar e lembrar sobre os cuidados com o próprio corpo e como a prevenção salva vidas. A medicina avançou muito no combate ao câncer de mama, principalmente no desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas e de novos medicamentos, aliados à inovação tecnológica. Contudo, também é necessário discutir as políticas públicas para que sejam incorporadas essas tecnologias, alinhadas ao cotidiano e às necessidades da mulher brasileira para se salvar vidas e melhorar a qualidade de vida do povo.