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Nº 5759
Opinião

NÃO DEVEMOS QUEIMAR ETAPAS .

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Por Alfredo Gazzaneo Brandão – engenheiro e membro da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 28/12/2023 - Matéria atualizada em 28/12/2023 às 04h00

Se ciclos existem em nossas vidas, não nos é dado o direito de ignorá-los ou suprimi-los. Devemos vivê-los, seguindo sua sequência lógica, sem nunca desconsiderar nenhum deles, caso contrário, provocaremos alterações, interferências no resultado do processo de formação e composição do nosso caráter, fato gerador de efeitos negativos, marcantes para a nossa personalidade.

A vida é composta por duas grandes etapas: o nascimento, quando ela começa e a morte, quando ela se encerra.

O processo de crescimento, como tudo na natureza, é composto por quatro fases: a infância, a adolescência, a fase adulta e a fase do envelhecimento. Todas, sem exceção têm sua importância, desafios, conquistas e graus de responsabilidade, fundamentais e decisivos para a nossa formação, motivo pelo qual, nenhuma delas deve ser ignorada. A atenção e o aproveitamento devem ser plenos, pois todas são passageiras e cada uma influi diretamente no desenvolvimento da outra e, assim sucessivamente. O pleno aproveitamento de cada uma delas contribui para que possamos envelhecer vivos, na total expressão da palavra, ativos, saudáveis e plenos de realizações.

As duas primeiras fases da vida, são fundamentais para a formação do indivíduo.

Na infância, precisamos do suporte e do acompanhamento direto da família por sermos carentes, indefesos, inexperientes, totalmente dependentes e abertos aos ensinamentos tendo que, de forma imperiosa, sermos receptivos aos novos conhecimentos.

Na adolescência, a depender do nível de cuidado e aprendizado recebidos na fase anterior, começamos a ter discernimento, a entender o porquê das coisas, a assumir novas posturas, esclarecer questionamentos, construir o caráter e a personalidade, criando nossa identidade.

Na fase adulta, seremos a resultante do processo de construção, gerador da nossa formação, adquirida, mas duas fases anteriores e como tal, assumiremos culpas e responsabilidades em consequência de ações e omissões dos nossos atos. Teremos o ônus e o bônus através do exercício do direito de decisão, do livre arbítrio, pois, não nos é dada a opção de desconhecer direitos, deveres. Deveremos ter, nessa etapa, a “percepção completa da realidade” ou “realização plena”.

Com o passar do tempo, vamos evoluindo e temos, gradativamente, nossa bagagem aumentada, cada vez mais pesada em conteúdo. Cabe-nos a responsabilidade de criar e gerir essa capacidade, tornando a carga, suportável e possível de ser conduzida.

A isso, chamamos de maturidade, a capacidade de sentir-se pronto, apto para lidar e dominar situações, com sabedoria, determinação e maestria.

A última das fases, a mais difícil de lidar, é a do envelhecimento, onde autonomia e independência são os parâmetros capazes de definir sua qualidade de vida, onde a expectativa de vida saudável está diretamente ligada à inexistência de incapacidades físicas, onde a independência dá lugar à dependência.

Envelhecer nos dá a oportunidade de sermos nós mesmos, sem preconceitos, sem máscaras, entendendo que, cada estágio da nossa vida, pode ser deveras enriquecedor, desde que aprendamos a ver a velhice, não como o fim da linha e sim como a última estação, na qual iremos descer, explorar e aproveitar, com coerência e com bastante intensidade, todos os seus espaços e opções de lazer e entretenimento e, dessa forma seguir aprendendo, até que tenhamos realmente que encerrar nossa permanência nessa última estação.

Deveremos ter em mente, a necessidade imperativa de seguir sempre no sentido contrário ao da discriminação pela idade e por outros estigmas de limitação física e cognitiva, conscientes de que a construção da nossa vida não se dá apenas na sua primeira metade, onde agregamos os conhecimentos elementares e básicos para nossa formação.

Quando bem vivida, a velhice nos dá a oportunidade de reunir todas as experiências vivenciadas ao longo dos anos, de modo a nos permitir chegar cada vez mais perto de exercermos o direito de sermos, quem realmente somos.

É fundamental combater a discriminação pela idade. O ideal é não esperar chegar ao momento limite para a mudança entre as diversas fases, sem adquirir maturidade suficiente para se preocupar com o problema, entretanto, é imprescindível entender que devemos procurar seguir a sequência lógica da vida, no tempo certo, sem queimar etapas, evitando apodrecer, antes de amadurecer.

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