CARTÃO-POSTAL AMEAÇADO .
.
Por Editorial | Edição do dia 31/10/2023 - Matéria atualizada em 31/10/2023 às 04h00
Na semana passada, os maceioenses foram surpreendidos com a notícia da venda do Hotel Jatiúca, estabelecimento que, além de ser referência turística, se tornou um dos cartões-postais de Maceió. De acordo com os novos donos, o hotel dará lugar a um novo espaço “mais democrático e moderno”.
Detalhes do projeto não foram divulgados, por “questões contratuais”, nem os valores da transação, mas há informações de que se trata de empreendimentos imobiliários.
A notícia vem causando preocupação. Empresários de Alagoas já começam a se posicionar contra a nova destinação do espaço onde hoje funciona o hotel. Eles lembram que aquela área não pode ser desvirtuada para construção de condomínios, pois, desde o início, foi destinada exclusivamente para o turismo, com preservação do meio ambiente.
O fato também chamou a atenção do Ministério Público Estadual, que instaurou uma Notícia de Fato para que os representantes das empresas envolvidas na negociação e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) prestem esclarecimentos sobre o negócio. Para o MP, a mudança poderá causar impactos não somente urbanísticos, mas também cultural e turístico a depender da pretensão dos novos proprietários.
O hotel foi idealizado e fundado pela empresária Helena Lundgren, conhecida no Brasil na década de 1970 como a grande dama do varejo à frente das Casas Pernambucanas. Após perceber o potencial do mercado do turismo ainda nos anos 1970, ela conseguiu convencer os acionistas a entrarem no ramo da hotelaria, com foco no Nordeste. Em Alagoas, o grupo recebeu incentivos do governo do Estado, que vendeu parte do terreno a um preço simbólico.
A construção do Hotel Jatiúca foi um marco que deu início à consolidação de Maceió como destino turístico nacional. Por seus quartos passaram empresários e personalidades do mundo político e cultural. Dada sua importância histórica, turística e também ambiental – já que envolve a Lagoa da Anta –, é preciso avaliar bem os impactos e a legalidade dessa mudança.