loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
segunda-feira, 24/03/2025 | Ano | Nº 5929
Maceió, AL
28° Tempo
Home > Opinião

Opinião

O papa do esporte

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

DOM EDVALDO G. AMARAL * Quando a saúde de João Paulo II está cada vez mais debilitada e suas forças físicas em preocupante declínio, parece interessante recordar as atividades esportivas e alguns aspectos de seu ensinamento sobre o esporte. No início de seu pontificado, foi chamado o “Superpapa” por sua extraordinária robustez e a prática freqüente de esportes – digamos – radicais. Um papa que nadava diariamente em Castelgandolfo no período das férias de agosto, que fugia dos salões do Vaticano, no verão, para esquiar nas neves da Maiella e do Gran Sasso, que praticava alpinismo nas trilhas das Dolomitas ou no Vale d’Aosta. Foi chamado “o atleta de Deus” na primeira década (1978-1987) de seu longo pontificado, hoje já o segundo maior da história, depois do beato Pio IX e o incerto período do 1º papa, São Pedro. “Grande é a responsabilidade dos esportistas no mundo. Eles são chamados a fazer do esporte uma ocasião de encontro e diálogo, para além de qualquer barreira de língua, de raça e de cultura. O esporte pode, realmente, dar válida contribuição ao entendimento pacífico entre os povos e contribuir para criar no mundo a civilização do amor” - ensina o santo padre. Desde jovem e até que seu físico, antes atlético, lhe permitiu, Karol Wojtyla sempre praticou intensamente os esportes como expressão de vida. No jubileu de prata de sua eleição ao Supremo Pontificado, o Centro Televisivo Vaticano (CTV) transmitiu um curta-metragem intitulado “João Paulo II fala ao esporte”. Constou de uma série de flashes, que vão desde seus anos de jovem até o pontificado. Desde as partidas de futebol no pátio da escola de Wadowice, onde Lolek (seu apelido infantil) nasceu, às remadas nos lagos gélidos de Mazuri, das caminhadas pelas trilhas nevadas dos montes Tatra às excursões nas montanhas vizinhas de sua terra natal. Tais flashes podem até certamente causar estranheza aos jovens da atual geração, que hoje vêem o papa Wojtyla vergado sob o peso dos anos e da doença, preso a um trono sobre rodas, impossibilitado de movimentar-se e agora, até de articular com clareza as palavras de suas preciosas mensagens. Assim mesmo, na forma com que este papa, idoso e doente, enfrenta a fadiga e o sofrimento, há ainda muito de verdadeiramente esportivo nele. Ancião e enfermo, ele continua com entusiasmo juvenil e incrível tenacidade, a pronunciar-se com fidelidade e autenticidade sobre temas incômodos e antipáticos à mentalidade do mundo de hoje, como a defesa intransigente da vida, a prática do sexo, a ética familiar, economia e política internacional, defesa dos direitos humanos, repúdio à guerra e à violência. E nem se omite sobre os aspectos polêmicos e problemáticos do esporte contemporâneo, como a dignidade do corpo humano, a defesa dos valores educativos com o respeito às características psicofísicas das várias idades. O esporte é para o papa Wojtyla, antes de tudo, “valorização cristã do corpo, esforço para atingir condições somáticas ideais, alegria de viver, festa lúdica e como tal, a ser valorizado e resgatado, hoje, dos excessos do tecnicismo e do profissionalismo, mediante a recuperação de sua gratuidade, de sua capacidade de estabelecer vínculos de amizade, de favorecer o diálogo e a abertura de uns para com os outros.” No pensamento de João Paulo, ocorre superar os perigos que hoje ameaçam o esporte, como a comercialização de todos os seus aspectos, e, sobretudo, a violência e o recurso ao “doping” e outras formas de fraude. “Não são poucos os desvios do verdadeiro esporte e estão ficando cada vez mais evidentes” - conclui com tristeza o papa do esporte. (*) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ

Relacionadas