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Nº 5905
Opinião

Os novos sintomas contemporâneos

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Por Anamaria Batista Nogueira - doutora em Psicologia/Estudos Psicanalíticos, Psicóloga Clínica e professora | Edição do dia 03/11/2023 - Matéria atualizada em 03/11/2023 às 04h00


O que é a loucura? O que poderíamos considerar por normalidade? Essas questões delineiam a clínica dos profissionais do campo psi, como psicólogos, psiquiatras e psicanalistas. Nossas clínicas são repletas por pacientes que trazem sintomas como insônia, ansiedade, humor depressão, bulimia, anorexia, compulsão, seja ela alimentar, sexual ou pelos gadgets (dispositivos eletrônicos). Esses sintomas são a marca da contemporaneidade.

Outros sintomas menos aparentes também se presentificam, como o não saber o que fazer, a dificuldade de interpretar o contexto social, de questionar sobre a própria vida, sobre o próprio desejo. Parece não haver um sofrimento que vire questão, que se direcione ao outro com fins a certo entendimento e até mesmo à cura. Em nossos consultórios aparecem pessoas que não supõem que um possível saber possa ser atribuído ao profissional psi. Trata-se de um saber perdido, sem referência, desnorteado.

A dificuldade transferencial impõe comprometimentos nos laços sociais. O corpo é o palco dos novos sintomas. A psicanalista Márcia Zucchi (2014), ao investigar sobre os novos sintomas, refere-se à temática “esse estranho que nos habita”. Um estranho, visto que os sintomas nem sempre dizem a que vieram! Temos as crises de ansiedade, as crises de pânico, as depressões eternas, as anorexias, a obesidade mórbida, a toxicomania e até mesmo a hiperatividade, o TDAH, que representam os novos diagnósticos clínicos e que rompem com a antiga forma de incidência dos sintomas.

Vivemos uma época sob o limite da loucura, tomando por referência os casos limítrofes designados pelo psiquiatra Dalgalarrondo (2008).

Os sintomas mais tradicionais como delírios e alucinações da psicose, as manias e rituais da neurose obsessiva, as somatizações e conversões da histeria e os medos por situações e animais específicos no caso dos fóbicos ainda aparecem nos consultórios, mas cada vez menos. A clínica vem mudando, com isso, a intervenção dos profissionais psi também deve ser reconsiderada. Precisamos “remendar” algumas histórias, para que elas possam ser minimamente endereçadas a alguém ou a algum roteiro, que seja endereçada à arte, à situação de continuar indo a um consultório psi, ao trabalho, a alguma função dentro da família ou, no melhor dos cenários, que ela passe a se direcionar ao amor, aposta de Sigmund Freud (1912), o amor transferencial. Operar com a presença em corpo, em “remendar”, a fim de possibilitar certa “reciprocidade”, o que Lacan (1960-61) localiza por “intersubjetividade”. A partir de então, seguindo os passos de Freud, o psicanalista pode se ausentar, mas não em corpo, e sim, passar a operar com a falta, se ausentar enquanto fiador do sentido

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