Opinião
Gelado ao sol

Ainda sobre o mistério da prática da livre concorrência no Brasil, melhor ainda: em Alagoas. Vejamos o caso dos geladinhos, coletivos equipados com ar-condicionado que deveriam estar trafegando pelas ruas de Maceió a acolher os sofridos usuários, castigados pelo sol inclemente. E tais ônibus seguem paradinhos, estacionados, à espera da liberação de seu direito de atender ao público. Pois esses geladinhos deveriam ser uma lição de livre concorrência, pois estariam comprovando que uma determinada empresa teria condições de oferecer um serviço de qualidade superior mantendo o mesmo padrão de preço. Aqui, a teoria da livre concorrência pareceria ter um laboratório excepcional, comprovando pelo método empírico de que assim caminharia a humanidade capitalista: avançando sempre na melhoria dos serviços oferecidos e no barateamento do preços, além do aumento do consumo de massa, etc. Mas, ao contrário do previsto na teoria, o experimento não deu certo. Gorou, no dizer dos nordestinos. E por que empacaram os geladinhos? Porque a livre concorrência, no caso brasileiro (e alagoano), na maioria dos casos, não é livre nem é concorrência. O impedimento da circulação desses coletivos refrigerados frustra o público, ávido de fugir da insolação sem ter que pagar mais por isso. Igualmente, as justificativas do congelamento desses geladinhos são incompreensíveis para os teóricos e estudiosos da economia. Em meio às dívidas e interrogações por conta dessa proibição do livre trânsito desses coletivos que se anunciam como oferecedores de uma maior quantidade de conforto e pelo mesmo valor da passagem, fica uma certeza: aqui a livre concorrência está detida, e parece que sem possibilidade de fuga. Que danado. Terá ocorrido algum erro na tradução desse conceito da livre concorrência? Pelo sim, pelo não, como vivemos em um tempo onde a esperança é a última que morre, mesmo sendo a primeira a ser ferida, vamos torcer para que o público venha a ter, um dia, mais conforto a um preço acessível.