Opinião
Doen�as do amor

MILTON HÊNIO * Como médico pediatra vejo com freqüência em meu consultório meninos ou meninas chegarem com sintomas de doenças físicas como vômitos, dor de cabeça, náuseas, febre e, na verdade, o que eles têm são dores da alma. Momentos vividos de angústia em seus lares, causando modificações no organismo. Vivemos em uma época de alterações dos valores e os índices de desencontros da sociedade são impressionantes; eleva-se a prostituição na juventude, a violência urbana e a desestruturação da família a cada dia, criando desencontros entre pais e filhos. A luta pela sobrevivência, casamentos não realizados afetivamente, pais nervosos, alcoolizados muitas vezes, transformam os lares em ambientes profundamente negativos e a criança sofre demais como observadora de pais que se degladiam. A criança é um ser de extrema sensibilidade e as impressões que ela leva de sua infância decidem o seu futuro. Romain Roland, grande escritor francês, dizia: O vinho conserva o aroma do primeiro tonel. E a alma humana traz o selo de uma juventude frustrada. Os casais que brigam muito na frente dos filhos não podem imaginar os transtornos psíquicos que estão causando neles. A agitação da casa age até mesmo sobre a criança que mama. Observa-se que as crianças choramingam quando os pais brigam, acalmam-se passado o temporal. Quando os pais brigam freqüentemente, a situação é muito desgastante para a criança, alterando profundamente o seu comportamento: fica triste, diminui o rendimento escolar, tem insônia, inapetência, dor de cabeça, etc. Essas são as chamadas doenças físicas resultantes de transtornos psíquicos. No futuro, com certeza, essas crianças que assistem a esses conflitos serão adultos tímidos. Ou, ao contrário, agressivos e violentos. E quando os pais não se respeitam, a vida da criança se transforma num inferno. Em cada briga, como forma de defesa, ela leva suas mãozinhas aos olhos e aos ouvidos, como quem quer recusar ver e ouvir cenas tão degradantes. A vida é a arte do encontro, mas encontros de felicidade, que dêem retorno de alegria. Essas crianças terão provavelmente uma juventude frustrada e serão eternos sonhadores, caminhando pela vida sempre buscando algo que lhe dê satisfação interior. Está provado que a criança na idade dos 3 aos 6 anos grava no seu inconsciente todas as cenas vividas. Ficamos tristes quando vemos as estatísticas modernas que mostram o índice alarmante de 56% de casais atuais que não completam cinco anos de casados. Faça o possível para oferecer uma carteira de identidade de amor para seu filho sem prazo de vencimento. (*) É médico - [email protected]