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Sururu da Nega

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| LUIZ BARROSO FILHO * A importância da música popular para a cultura brasileira não pode ser mensurada sem a contribuição das composições carnavalescas, especialmente daquelas cujas letras satirizam nossos usos e costumes, além dos problemas sociais, econômicos e políticos. No repertório do carnaval alagoano, uma das músicas que apresenta essas características é o frevo-canção Sururu da Nega, da autoria dos conterrâneos Aristóbulo Cardoso e Pedro Nunes, lançado em 1934, no Teatro Deodoro, por uma cantora integrante da Companhia Argentina de Espetáculos Típicos, em temporada por Maceió. Desde seu lançamento, o Sururu da Nega atravessou décadas fazendo grande sucesso nos salões e nas ruas, e ainda hoje é presença obrigatória nos carnavais de Maceió, executada repetidamente pelas orquestras de frevo, com a parte cantada que diz: “É da favela? Não, nega Juju/ Nasceu num rancho da terra do sururu/Quadris roliços, o cabelo atrapalhado/Quem vê diz que traz feitiço no olhar apimentado/Cavando a vida no Canal do Mundaú/Pesca caboclo, maçunim e sururu/Em Bebedouro, no Farol, na Ponta Grossa/ Com o sururu da nega a folia é nossa/ Não há petróleo, não há porto, não há nada/ O bom problema é o sururu lá na Levada”. A letra do publicitário Pedro Nunes exalta o trabalho da catadora de sururu, representado pela Nega Juju, fantástica personagem que esbanja sensualidade, apesar de sua deplorável condição social. Na segunda parte denuncia o fato de a cidade não possuir um porto marítimo, na época, para o escoamento de petróleo, quando o “ouro negro” foi descoberto em Alagoas. Desse modo, o texto destaca a importância da pesca do sururu, já que o petróleo, tido como a redenção econômica do Estado, não era explorado. Sobre essa questão focalizada no verso “não há petróleo, não há porto, não há nada”, convém observar que em 1935, um ano depois da estréia do frevo, teve início a construção do porto de Maceió, que foi inaugurado em 20 de outubro de 1940. Porém, é leviano afirmar que o sucesso da música tenha exercido influência direta nesse acontecimento. O que se credita a essa composição é o valor histórico e o prestígio popular que mantém há 71 anos. Embora consagrado e considerado o hino do carnaval maceioense, curiosamente a primeira gravação em disco do Sururu da Nega só ocorreu em 1977 - 43 anos depois de seu lançamento - interpretado pela cantora Leureny Barbosa, no LP Alafrevo, graças à iniciativa do radialista Edécio Lopes, autor do frevo-canção Cidade Sorriso, outra preciosidade do nosso carnaval. (*) É advogado e membro da Comissão Alagoana de Folclore

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