Opinião
O poeta triste

| MILTON HÊNIO * Fazer poesia requer sensibilidade. E quando essa sensibilidade está associada ao temperamento solitário, introspectivo do ser humano, essa poesia é exposta de forma melancólica. Foi o que aconteceu com Augusto dos Anjos. Era 20 de abril de 1884. Nascia no Engenho Pau dArco, na Paraíba, aquela criança franzina que em breve seria um dos grandes poetas brasileiros. Sempre foi uma criança triste. Cresceu magro, de olhar doloroso e aflito, o corpo curvado pela fraqueza, o espírito doente e solitário. Na sua poesia, é patente esse sofrimento agudo, que fez de sua curta passagem pela terra um verdadeiro calvário. Tinha a mania de doença e vivia cercado de medicamentos e receitas. Vivia apavorado com medo de micróbios e à noite o atormentava uma insônia feroz. Esse nervosismo atrapalhava em muito sua inteligência genial. Foi professor aos 20 anos, porém era de uma timidez impressionante; nem a convivência com as crianças de sua idade conseguiram fazê-lo feliz. Porém, ele amou uma professora, Ester Fialho, com quem se casou. Ela foi dedicadíssima durante os poucos anos de casados, acompanhando a angústia de sua alma. Em 1910, viajou para o Rio de Janeiro e dois anos depois publicou seu primeiro livro, esse estranho e grande livro, que ainda hoje desperta comentários, o imortal EU. Aos 30 anos faleceu de tuberculose. Morreu na cidade de Leopoldina-MG, onde se refugiara quando soube que estava tuberculoso. Considerado por muitos como o maior poeta do Brasil, Augusto dos Anjos deixou poemas lindíssimos, muitos dos quais vazados na sua linguagem tétrica e realista. Cantou a beleza, não essa que vemos no pôr-do-sol, na natureza, mas uma beleza nascida para ele da dor e da morte. São conflitos ideológicos, religiosos e econômicos. A ânsia reside mesmo na inquietação provocada pela rapidez dos contrastes. O homem que criou o ruído busca hoje o silêncio; o homem que criou o movimento busca atualmente a estática; o homem que criou as ruas asfaltadas, para atravessá-las com maior facilidade, busca o sítio ou a fazenda distante das ruas da cidade para seu descanso espiritual. O homem que pescou e nadou nos rios da sua cidade, hoje foge para o regato murmurante e tranqüilo das cidades do interior. O progresso infelizmente tem que dar, mas também tem que tirar. Se a sensibilidade é dom delicioso que as musas concedem aos poetas, você nem imagina que pode ser um deles. Viveis poesia no dia-a-dia de suas vidas. Transcreva para o papel os seus sonhos, suas idéias, seu encanto pela vida e se transforme num poeta, triste ou alegre. * É Médico