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domingo, 11/05/2025 | Ano | Nº 5964
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Opinião

A mina 18 .

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Algumas poucas décadas atrás, o Pinheiro era um jardim do Éden. Ali existia uma floresta de mangueirais, cajazeiros, cajueiros e ingazeiros frondosos que alimentavam os sanhaços, guriatãs, xexéus e outros caga-sebos, que se fartavam de seus frutos e cantavam soltos, enquanto a meninada jogava bola em seus campos de barro batido.

Seria ingenuidade esperar que tão privilegiada região permanecesse intacta e impermeável ao crescimento da cidade, que a ocupou adequadamente com residências da classe média, comércio, escolas, igrejas e um hospital tradicional, o Sanatório, com imensuráveis serviços prestados à comunidade alagoana.

Há alguns anos, aquele Éden começou a se desmanchar. Tudo que havia sido construído duramente durante décadas começou a rachar, obrigando seus moradores a abandonarem as suas residências e suas amizades, seus vizinhos, suas convivências de décadas, suas histórias de vida. Escolas, comércios e igrejas também foram engolidas pelo que parecia ser um monstro que do interior da terra lançava seus tentáculos sobre eles. Até o tradicional Sanatório foi obrigado a fechar suas portas e evacuar os seus pacientes abruptamente para outros hospitais, como se estivesse sob bombardeio em plena Faixa de Gaza.

Essa situação, que se agudizou recentemente com o afundamento gradativo da região do Mutange e adjacências, com ameaças de colapso da mina 18, criou um clima de ansiedade e angústia, antes restritas aos moradores do Pinheiro, para toda a comunidade alagoana, principalmente aquela mais desfavorecida e sempre a vítima preferencial dessas tragédias, que também é um crime ambiental inimaginável.

Angústia, ansiedade, desespero e depressão para os 60 mil moradores do Pinheiro, as primeiras vítimas, e agora para os moradores do Mutange e adjacências, para os moradores dos Flechais, que estão isolados, para os pescadores e marisqueiras da lagoa Mundaú, que estão sem poder trabalhar. Atualmente, as ameaças alçaram-se ao turismo, a principal e insubstituível vocação econômica de Alagoas, fonte de receita estadual sem alternativas viáveis à vista. Aí, o sufoco, geralmente restrito aos pobres e miseráveis, alcança outro patamar...

Einstein escreveu: “O importante é não deixar de fazer perguntas”. Se existiam evidências técnicas relacionadas aos riscos da mina 18 desde 2018, por que as autoridades públicas não agiram em tempo hábil para evitar tamanho desastre? Todos atuaram com o zelo que as suas prerrogativas constitucionais lhe concedem? As investigações sobre os responsáveis vão ter as respostas compatíveis com a escala dessa tragédia? Houve ou haverá leniência e impunidade? Reitere-se ad infinitum: essa tragédia e as suas consequências tão nefastas quanto imprevisíveis e imponderáveis eram evitáveis?

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