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Poesia e mundo

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GILBERTO DE MACEDO * Sem poesia o mundo perde sua dimensão humana, torna-se ressequido, reduzido, desfigurado. É um amontoado de coisas desprovidas de sentido, sem perspectiva, é a momentaneidade. Eis que a poesia é a mais rica forma de expressão humana. Nela, a criatividade atinge sua perfeição, de forma e de significado. Para usar uma frase de Jorge Luís Borges: ?...música da palavra?. Seu veículo é a metáfora, palavra dotada de múltiplas e originais conotações que permitem a poesia dizer tudo sobre tudo. Através dela manifestam-se os mais íntimos desejos, os mais profundos sentimentos, os mais fortes anseios e as idéias mais complexas. É o encontro da palavra com o sonho. Nesse mundo mágico da poesia, tudo é encantamento para o homem, pois a alma poética é toda feita de comoventes sentimentos, engrandecendo o coração humano. Aperfeiçoa quem a percebe. Eleva a maneira de ser: humaniza. A poesia leva em si o amor, que purifica os sentimentos. O mundo em que vivemos está carecendo muito de poesia. É que no mesmo, em decorrência do avanço tecnológico mal dirigido, predomina a mentalidade mecanicista, amargurando as almas, embrutecendo os sentimentos. Prevalecem os interesses materiais sobre os valores, e, particularmente, as necessidades afetivas dos seres humanos. A convivência torna-se, então, desagradável, onde a falta de simpatia é um traço geral. O mundo é uma empresa. Os interesses materiais estabelecem como meta prioritária o lucro econômico, levando ao clima de competição, que leva aos comportamentos não-amistosos, pois aí tudo está reduzido a negócio, e como se costuma dizer, negócio é negócio, amigos a parte. Adora-se somente ao deus-dinheiro. A fraternidade, a amizade, até o amor, estão submetidos aos referidos interesses. A atitude fratricida domina essas pessoas. Não há solidariedade, da afirmação cínica de que salve-se quem puder. O poeta Pablo Neruda diz muito bem a respeito: ?Eles me dão sua voz para sofrer e sua advertência para deter-me ...chamam-nos pelo telefone com urgência para certificar-nos que ficou proibido ser feliz?. Esse estado coletivo de beligerância cria inimigos imaginários, vivendo num clima de guerra silenciosa, em atitude de luta face aos semelhantes, ?...contra os próprios sonhos? (Neruda). Daí as tensões que assinalam os dias de hoje. É que não se pode contrariar, impunemente, as necessidades básicas da natureza humana, sobretudo da esfera da afetividade, dos sentimentos, dos valores. O preço é o sofrimento, a insatisfação geral, o ânimo hostil, que nega o próprio homem. Como diz o poeta Fernando Pessoa: ?Ninguém conhece que alma tem. Nem o que é mal, nem o que é bem?. É o conflito dentro de cada um. A poesia é o remédio para essa doença da sociedade tecnológica contemporânea, porque ameniza as tensões, eleva os corações e faz perceber a vida humana em sua real grandeza. (*) é médico

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