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quarta-feira, 30/07/2025 | Ano | Nº 6021
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Inven��o de Orfeu

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Dom Fernando Iório * A Invenção de Orfeu é o maior documento literário-poético da natureza barroca do Brasil. Trata-se de um texto extremamente complexo e erudito. Apresenta poesias metrificadas e rimadas, outras em verso livre e branco, poemas épicos de carne e osso. O interessante se retrata, dentro da intertextualidade, aquele processo de criação literária que chega a bordejar os limites do plágio, vez que parece romper as margens da intertextualidade, como se o poeta alagoano houvesse trabalhado sobre um palimpsesto, apagando uma e outra palavra, substituindo-as, modificando-as ou aproveitando-as integralmente. Tentemos fazer uma comparação entre Invenção de Orfeu (VI, VIII): ?De pesada armadura, um velho o ventre/ trêmulo veste, inútil gládio à cinta/ e entre o torpe inimigo a morrer parte./ Quem de cidades cem reinou soberbo/ é cadáver; nas ruas o último ato / corre exangue, dos crânios decepados?. Comparemos agora o texto de Jorge de Lima com a estrofe da Eneida, de Virgílio (Livro II): ?D e ociosa armadura o velho aos ombros / trêmulos veste, inútil ferro à cinta / Entre basto inimigo a morrer parte / Quem d?Ásia em povos cem reinou soberbo / É cadáver. Na praia, o corpo informe / jaz sem nome, a cabeça destroncada?. Nos dois textos, as palavras indicam os pontos de contacto ao nível do fonema, do morfema, da palavra. Em Invenção de Orfeu encontramos uma área imensa para o estudo da Intertextualidade, chegando às raias do palimpsesto. Em tudo isso, não deixou Jorge de Lima de introduzir, na sua poesia, a religião. No seu poema ?O Homem Comum?, assim se expressa: ?Não vou só pelo mundo: / vou com os caminhos / vou com as nuvens / vou com o meu desejo.../ de amanhecer outro homem./ ...Não vou só pelo mundo / vou com a paz / ...Amanhã morrerei: / ressuscitarei algum dia / não sei que poemas formarei.? Exemplo de intertextualidade encontramos nos primeiros cantos de Virgílio na Eneida, de Camões nos Lusíadas e em Jorge de Lima na Invenção de Orfeu. Nos Lusíadas inicia Camões o primeiro Canto: ?As armas e os barões assinalados...? Esse verso é imitação de Virgílio no 1° Canto da Eneida: ?Arma virumque cano? - ?Eu canto as armas e os barões?. Jorge de Lima, no Canto I: ?Um barão assinalado sem brasão, sem gume e fama cumpre apenas o seu fado...? É que grandes poetas se apadrinhavam da fama de seus similares do passado, imitando-os, às vezes, de tal maneira que muitos críticos chegaram a acusá-los de plágio. Jorge de Lima não feriu a regra: seguiu algumas linhas poéticas de antecessores já assinalados como varões imortais. (*) É bispo de Palmeira dos Índios.

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