Opinião
Meu velhinho

Lícia Gatto * Como sabemos, Deus não cobra pelos benefícios que concede, portanto, resta-me o sentimento de gratidão ao Criador pelo privilégio divino de ser filha de Ivens Gatto. No sétimo dia da morte de meu pai, quero expressar o amor pilar do qual, eu e meus irmãos fomos criados. Papai transmitiu em sua trajetória de vida este sentimento, sinônimo de elevação do ser humano patrocinador de valores que preservam a união familiar direcionando-a para o equilíbrio e a felicidade de nossas vidas. Numa tarefa incansável e até aparentemente estafante, ele trabalhou sempre suportando as mais diversas dificuldades, defendendo com brilhantismo o peso dos encargos da vida e a felicidade de todos que se encontravam a sua volta. Guardo dele a lembrança, ainda na infância, construindo brinquedos de natal escondido na garagem de nossa casa quando a grana era insuficiente para comprá-los em loja (acredite papai, aqueles brinquedos foram os mais valiosos de nossas vidas). Ainda guardo a melhor das lembranças: a sua reputação, o seu caráter e sua honestidade, que me fez amar e admirar os homens, pois convivi com a melhor espécime deles todos! Gosto de lembrar seu gosto em cultivar a liberdade de espírito e de sua firmeza nas decisões. Meu velhinho sempre teve bom ânimo nas grandes dores, na sua doença interminável, na perda do filho querido e nas doenças graves da família. Soube sempre sofrer com resignação sublime que só os anjos a possuem. Vivenciei com meu pai a solicitude constante dos amigos que sempre encontraram em seus ombros largos um porto seguro. Vi como exerceu a paciência para com os ignorantes, fazendo até piadas das tolices sem humilhar ninguém. Exerceu a tolerância até com os faladores levianos, principalmente na prática do exercício profissional jurídico. Papai sempre soube adaptar-se a todos tão bem, que seu trato sempre foi mais doce do que qualquer lisonja, embora ele inspirasse a imponência dos magistrados. Lembro sempre da clareza e da facilidade com que descobria e ordenava os preceitos filosóficos tão necessários à vida e, principalmente, a nossa educação. Aprendi com ele outras lições, entre elas, tem uma que venho treinando para adquiri-la sem obter muito sucesso: não demonstrar, jamais, cólera, nem outra qualquer paixão de natureza insana. Ele sempre estava sereno e equilibrado, mesmo nas horas difíceis. Papai exerceu o gosto de elogiar os merecedores com discrição. Ninguém jamais se sentiu menosprezado por ele, porque ele nunca ousou julgar-se superior! Enfim, meu pai foi a verdadeira essência do amor do qual sinto maior orgulho, admiração e muita saudade. (*) É diretora da FAL e pedagoga.