Opinião
Corrup��o: a hidra do nosso tempo

SÉRGIO COSTA * Quem leu a história da mitologia deve lembrar-se da Hidra de Lerna, uma devoradora serpente venenosa com muitas cabeças. Cada vez que uma era cortada, nasciam duas. Hércules foi chamado para matar o monstro. Os fantásticos relatos dizem que ele obteve êxito. Mas há controvérsias. Alguns mitólogos afirmam que a fera caiu no mar e, fingindo-se de morta, mudou de fisionomia e aportou nas repúblicas subdesenvolvidas. Aqui, no Brasil, onde está hospedada há bastante tempo, ela utilizou-se do processo de empatia para ocupar o lugar de parte dos dirigentes políticos. Isso não é mito. O mais intrigante de tudo isso é que depois de verem desequilibrados os nossos orçamentos fiscais, depois de impedirem investimentos no ensino fundamental e médio e, como conseqüência, atravancar o desenvolvimento do país, esses políticos são persuadidos a procurar os meios de comunicação para anunciar a velha e cínica justificativa de que necessitamos de reformas! O que fazer, então, para destruir esse monstro que se alimenta do nosso endividamento e ainda arrota na nossa cara ignorância, doença, inflação, altas taxas de juros e pobreza? Pensemos um pouco... Não há dúvida de que esta missão exige a presença de estadistas e heróis. De fato, muitos não têm coragem de enfrentá-lo porque sabem que seus fiéis seguidores, espalhados por todos os setores da república, não pensarão duas vezes em eliminar todos os que ousarem o enfrentamento. É o que podemos chamar de gerações perdidas. Bem, como não podemos contar com elas, poderíamos tentar a contratação dos serviços de Hércules! Neste caso só nos resta intentar uma insurreição nacional, desta vez mais latente e silenciosa ? imune a traidores e falsos profetas. Como? Fortalecendo o caráter dos nossos jovens, os futuros representantes dos poderes republicanos. Haveremos, sobretudo, de ensinar-lhes filosofia, política, moral e ética, a fim de que eles possam entender e combater o raciocínio criminoso da serpente. Em seguida, evocaremos a presença de Tiradentes! Sim, ressuscitá-lo seria condição indispensável para o êxito da nossa civilizada conspiração. Suas pernas correriam na busca dos rastros da serpente; seus braços, agora muito mais fortalecidos pela força divina, estrangulariam a cabeça central da hidra; suas mãos jogariam os remanescentes embriões do mal lá nas profundezas do inferno; seu coração alado voaria até os mais longínquos recônditos da pátria para distribuir sangue novo e; finalmente, seu espírito tomaria conta do pensamento da nação que, assim fortalecida, passaria defender suas riquezas e comandar soberanamente o seu próprio destino. (*) É economista.