Atrasos explosivos

Incrível o número e a complexidade dos conflitos neste começo de século. Enquanto bombas não são surpresa em Bagdá, escandalizam o mundo quando estouram em Londres (embora ninguém estranhe os motivos de se atacar a Inglaterra ou os Estados Unidos), lembrando que existe uma linha de ligação indissolúvel entre o sangue que verte no Oriente Médio e o sangue que corre em solo inglês, americano ou de outros aliados desses dois grandes países. E mais complexas ficam as coisas quando se tenta avaliar o que acontece em terras iraquianas, país que deveria estar comemorando sua “libertação” segundo Bush, Blair e outros tantos que consideram a mesma coisa. Mergulhado num processo infernal de terror, a sofrida população iraquiana parece padecer de um martírio sem fim – e, por incrível que possa parecer, até respeitáveis vozes nos Estados Unidos começam a perguntar se as coisas não estariam piores agora do que nos tempos da ditadura cruel de Saddam Hussein. Segundo o New York Times, importantes “liberdades básicas que sobreviveram à tirania de Saddam Hussein estão à beira de ser perdidas sob um governo democrático apoiado e protegido pelos Estados Unidos”. Avalia o New York Times que “do jeito que as coisas estão agora, seus direitos (o das mulheres) estão para dar um passo atrás de 50 anos”. Pelas normas que estão sendo incorporadas ao esboço da “nova constituição”, sob a inspiração dos radicais xiitas, a nova carta magna iraquiana simplesmente adotaria a sharia – conjunto de normas rigorosas supostamente baseada no Alcorão e que cassa das mulheres o direito de escolher os próprios maridos, herdar propriedades e valores em pé de igualdade com herdeiros homens e ter proteção jurídica no divórcio. Enquanto o Iraque vai andando para trás, avança o terrorismo no mundo.