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Nº 5810
Opinião

Trabalho maior

Com justiça, o tema da injustiça do trabalho infantil continua em pauta. É certo que seja um assunto permanente nas atenções e pesquisas sobre a realidade brasileira. Nos últimos dias, muito se tem comentado sobre uma recente pesquisa da Organização Inter

Por | Edição do dia 08/05/2002 - Matéria atualizada em 08/05/2002 às 00h00

Com justiça, o tema da injustiça do trabalho infantil continua em pauta. É certo que seja um assunto permanente nas atenções e pesquisas sobre a realidade brasileira. Nos últimos dias, muito se tem comentado sobre uma recente pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um dos dados da pesquisa tem sido usado como peneira frente ao sol. É o caso dos números sobre a suposta queda do trabalho infantil. Houve quem apresentasse o índice de 23% de queda do trabalho infantil (entre 1992 e 1997) como algo digno de foguetes e bandas de música. Uma análise mais acurada mostra que, embutidos nesse número geral, essa queda tem se tornado menos expressiva com o passar dos anos. Ou seja, a criançada está sendo – lentamente – recolocada nos postos de trabalho. Áulicos do governo federal procuraram esgrimir a queda nominal de 8,4 milhões de crianças trabalhando em 1992 para 6,6 milhões de menores no batente em 1999. Esquecem-se de avaliar, além do óbvio, o impacto dos programas assistencialistas que, neo-rotulados, investem pesados recursos para custear a “retirada” da criançada do labor impróprio. O que é ululante? Em primeiro lugar, adventos como o bolsa-escola e outros equipamentos assistenciais garantem a retirada formal da garotada dos postos de trabalho. Em segundo lugar, não se leva em consideração a retração “normal” dos postos de trabalho para todos, sejam maiores ou menores. E, em terceiro lugar, se minimiza a gigantesca realidade do trabalho informal, onde chafurdam a primeira, a segunda e a terceira idades, todos igualmente travando a guerra sem regras pela sobrevivência imediata. Ao menos, as majestades solidárias do governo federal não terão como desconsiderar o emagrecimento dos números oficiais, pelo menos em atenção ao ano eleitoral. E, quem sabe, graças a tais fatores conjunturais, a questão da retirada dos menores do trabalho indevido e a colocação dos maiores no trabalho devido possam ser levadas à prática com mais seriedade. Maiores e menores agradecem a atenção.

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