Opinião
Quem � quem?

| Elaine Cristina Pimentel * A violência urbana em Maceió chegou a um patamar tão absurdo que tem conseguido alterar a rotina da maior parte da comunidade. Não é de hoje que as classes média e alta vêm buscando alternativas para fugir da criminalidade: grades e muralhas nas residências, vigilantes armados, alarmes e cães bem treinados. Nos carros, alarme e película nos vidros. Mas nem tudo isso é suficiente para conter a onda de violência. Se mesmo com tamanho arsenal as classes abastadas continuam sendo vítimas da violência urbana, o que deve estar acontecendo com aqueles que moram nas periferias da cidade? Curiosamente, eles viraram suspeitos de assaltar ônibus de linha! Todos aqueles homens que fazem uso dos ônibus que circulam pela cidade de Maceió podem ser, a qualquer momento, rendidos com as mãos para o alto e submetidos a uma revista nada respeitosa. As mulheres, por enquanto, estão isentas de tal revista, já que na Polícia Militar não há número suficiente de policiais femininas. De qualquer jeito, trata-se de um constrangimento de grandes proporções. Qual a justificativa para uma atitude tão constrangedora para o cidadão comum? Há poucos dias, o Brasil assistiu, estarrecido, ao equivocado assassinato do brasileiro Jean Carlos de Menezes, em Londres. Jean Carlos era isso: apenas mais um brasileiro tentando a vida na Europa. Como milhares de outros brasileiros que tentam a sorte no Velho Mundo, era anônimo e desconhecido. Porém, há um detalhe que o torna semelhante aos usuários das linhas de ônibus de Maceió: na era do terror, todos são suspeitos. Foi por conta dessa lógica que Jean Carlos morreu com oito tiros à queima-roupa, numa ação atrapalhada da respeitada polícia londrina. Diplomaticamente, Tony Blair pede desculpas à família do morto e ao Brasil, mas anuncia que a polícia de Londres continuará a adotar atitudes enérgicas. Em Maceió, nossa Polícia Militar não pede desculpas. Continua a constranger a comunidade. E acredita que está fazendo a coisa certa, em nome da segurança. Enquanto isso, em Brasília, os que depõem na CPI escondem-se atrás de habeas-corpus preventivos. Querem prevenir-se de uma possível voz de prisão. Será que os usuários dos ônibus podem chegar ao extremo de precisar de habeas-corpus preventivo para circular por Maceió? Na situação de barbárie que estamos vivendo, acabamos por inverter a situação: criminosos são protegidos e cidadãos de bem são suspeitos. Uma dúvida paira no ar: quem são as vítimas e quem são os criminosos? Quem é quem, afinal? Pergunta difícil de responder. (*) É professora de Filosofia do Direito da Ufal e mestranda em Sociologia.