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Idolatria em baixa

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| RONALD MENDONÇA * No dia 24 de agosto de 1954, ao chegar ao Colégio Diocesano, fui surpreendido com a notícia de que as aulas estavam suspensas por conta do suicídio do então presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas. Com um pouco mais de 6 anos de idade, não pude alcançar a exata dimensão da tragédia. Contudo, a tristeza e o luto estampados nos familiares foram suficientes para tornar aquele dia inesquecível. Com os anos conscientizei-me da relação de amor-ódio que o povo nutria pelo suicida. Em Bebedouro, muito tempo depois de sua morte, cansei de ver na sala de visitas de muitas residências a foto de Getúlio. Reverenciado como o maior político brasileiro de todos os tempos, não deixa de ser estranho o silêncio que a imprensa concedeu a Vargas nesse último 24 de agosto, 51 anos depois daquele ato extremo. Certamente, não foi por esquecimento. Quem sabe, não há mais nada a acrescentar sobre o líder que, com mão de ferro, dirigiu o País de 1930 a 1945, quando foi deposto. É possível até que o suicídio de Getúlio só sirva mesmo, hoje em dia, como gancho para abrilhantar comoventes artigos e discursos em defesa de Lula, denunciando a direita sanguinária e sua irremediável inclinação genética para o golpismo. Abstraindo se a crise política que acionou o suicídio era real ou fabricada pelas oligarquias, a verdade é que num determinado momento o “Velho” crivaria a frase que atravessaria os tempos ao reconhecer que havia em torno de si “um mar de lama”. Assim, é de se imaginar que impelido pelas circunstâncias, a decisão de licenciar-se do cargo tornou-se insuportável para alguém de 72 anos, que há bem pouco detivera o poder absoluto do País. Não é de mais reafirmar que, apesar do sorriso simpático das fotos, Vargas não era nenhum docinho de coco. Na sua fase ditatorial, havia um impiedoso aparelho repressivo que literalmente detonou toda e qualquer tentativa de oposição. Diante disso tudo, para um homem com tal história, é doloroso concluir que o suicídio certamente a ele pareceu a saída mais honrosa. Não é de graça a idolatria a Vargas. Tido como o pai dos pobres (e mãe dos ricos), o caudilho era sobretudo um nacionalista. Populista ou não, a Getúlio Vargas o trabalhador deve as bases das garantias legais do emprego e o salário mínimo digno. São também de sua lavra a nacionalização da Petrobras, de Furnas e o que viria a ser a Cia. Vale do Rio Doce, ações que permitiriam os futuros vôos desenvolvimentistas de Juscelino. (*) É médico e professor da Ufal.

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