Opinião
Dois pesos, duas medidas

| Luciano Siqueira * Tudo bem que o ministro Antonio Palocci se saiu satisfatoriamente na entrevista coletiva que concedeu em pleno dia de domingo para se defender das acusações de um ex-auxiliar dos seus tempos de prefeito de Ribeirão Preto, o tal Rogério Buratti. Segundo opinião geral, fartamente divulgada em todas as mídias, o ministro da Fazenda foi sereno, esclarecedor, muito convincente. Um verdadeiro sucesso! Ao lado dos elogios por esse desempenho, não foram poucos inclusive lideranças empresariais e próceres oposicionistas a lhe manifestarem solidariedade pela conduta precipitada do promotor que revelou detalhes da oitiva do sr. Buratti e pelo trato sensacionalista dado ao assunto pela imprensa. Corretíssimo. Porém não custa indagar o porquê de outros acusados de modo igualmente levianos até agora não foram alvos da mesma solidariedade. Uma das explicações que nos parece lógica e verdadeira é que, mais do que Antonio Palocci, os que o defenderam de público, com certa veemência, estão de olho é na política macroeconômica gerenciada pelo ministro. Mesma razão porque o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, às voltas com graves acusações de irregularidades em algumas operações financeiras em seus negócios privados, simplesmente, desapareceu do noticiário. Dois pesos, duas medidas. Ou, dito de outra forma, a maioria da grande mídia brasileira segue estratégia assemelhada a da oposição, direcionando o noticiário para os determinados pontos, desse modo tentando focar opiniões críticas naqueles a quem deseja derrotar ou enfraquecer. Assim o tratamento dado ao ministro Antonio Palocci mata dois coelhos com uma só cajadada, como se diz cá em terras nordestinas. Pode-se dizer que desse modo, preserva a atual orientação econômica e financeira (na essência uma continuidade do que faziam Fernando Henrique Cardoso-Malan) e ainda mantém o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sob pressão. É como se o advertissem: A gente livra o ministro e o presidente do BC e com isso admite uma sobrevida do seu governo, contanto que não altere o rumo da economia. Moral da história: noves fora os verdadeiros casos de corrupção - que precisam ser plenamente apurados e seus protagonistas responsabilizados criminalmente - nesse mar de denúncias, revelações, listas, acusações e que tais, corre um jogo político terrível. Então, só não vê quem não quer ou não presta a devida atenção. (*) É vice-prefeito da cidade do Recife.