Opinião
Frente fria

| MARCOS DAVI MELO * Presente na cidade do Rio de Janeiro para comparecer a um evento científico de minha profissão, sou envolvido por uma frente fria que a muito tempo não presenciava nesta sempre tão bela cidade. O feriado de 7 de Setembro foi todo ele de chuva e com a temperatura entre 16 e 17 graus, e sem praia, o que para o carioca é a pior coisa que pode acontecer em um feriado. Mesmo com esse tempo feio, a cidade está como sempre, cheia de turistas: os que chamam mais a atenção são os japoneses, pequeninos e esfuziantes. Quando chegam ao hotel na orla de Copacabana, mesmo após uma viagem de 40 horas, só fazem deixar as malas na portaria e correm em grupos para a praia, ainda com a roupa da viagem e mesmo debaixo de chuva, aos pulinhos tiram incontáveis fotografias, tendo ao fundo a natureza esfuziante do Rio. O mapa da violência no Rio de Janeiro mostra que 52% dos assaltos acontecem no centro da cidade e apenas 10% na zona sul, o que dá um mínimo de tranqüilidade a quem está nessa região. Para um sobrinho que mora aqui e é de Recife, ele se sente muito mais seguro no Rio de que em Pernambuco. Mas o feriado de 7 de Setembro não foi só de congressos, passeios de turistas japoneses e passeatas militares; em Nova Iorque, Severino Cavalcanti apresentou três versões diferentes para denúncia do episódio do mensalinho do restaurante do Congresso. Foram contradições e posturas incompatíveis com o presidente da Câmara. Parece que toma corpo entre os congressistas um movimento que visa apeá-lo do poder, mas certamente não vai ser fácil. Gabeira já está militando entre a oposição, seus antigos algozes, esse quadro político atual é sempre surpreendente. Lula fez discursos em que relativou a crise política e priorizou o discurso econômico. Caso se confirmem as atuais previsões de queda da inflação, de revisão para cima do crescimento econômico do País e de redução de juros, Lula é candidato sim a reeleição. Embora a memória popular esteja ativa e no 7 de Setembro os protestos contra a corrupção tenham sido entoados em todo o País e direcionados contra o governo, caso a situação política se acomode pelos ventos econômicos favoráveis, isso será um baita motivo para os cientistas políticos discutirem se entre nós não é uma verdade absoluta que a economia é que comanda a política. Enquanto isso, resta para os mortais como nós trabalhar, estudar e, nas horas vagas, ir a um teatro, e aqui no Rio, a oferta sempre é boa, à Lapa curtir samba e chorinho de primeira e ao Canecão para ver Caetano e Milton Nascimento que ninguém é de ferro. (*) É médico.