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Oscar Niemeyer

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| Eduardo Bomfim * Em agosto de 2003, fui ao Rio de Janeiro. Fiz contatos na Funarte, visando estabelecer parcerias com a Secretaria de Cultura de Alagoas. Além disso, acalentava um sonho de prestar alguma homenagem ao escritor Graciliano Ramos. Pensei em algo ousado e marquei um encontro com o arquiteto Oscar Niemeyer, esse gigante do traço nos espaços. Suas obras espalhadas mundo afora. Uma mesquita em Argel, a sede do Partido Comunista francês em Paris, uma famosa editora na Itália, o memorial da América Latina em São Paulo, o museu de arte contemporânea em Niterói, uma coisa lá no parque central em Londres etc. Além disso, o idealizador de Brasília, cidade patrimônio da humanidade. Ele se encontrava falando para uma seleta platéia de arquitetos alemães, em sua maioria jovens, embasbacada diante daquela figura pequena, camisa de meia, cinturão e calça de brim cinza. Ao nos ver, eu, Vinicius Palmeira, e Vítor, seu irmão que morava no Rio, parou de falar, e pediu que nós aguardássemos mais um pouco, porque a “conversa com os gringos já estava terminando”. O tradutor deve ter repetido sua frase e os galegos olharam espantados para nós. Quem seriam as três figuras, devem ter se perguntado mentalmente, na disciplina germânica. Éramos ilustres desconhecidos para ele. Terminada a reunião, levou-nos para uma mesa próxima à janela de onde tínhamos uma vista completa da maravilhosa enseada. Sentou-se e disse: “Falei para os alemães que Bush era um ditador, genocida e analfabeto. Vocês acham que eu agi certo?” Falamos sobre tudo, menos o motivo da nossa visita. Perguntou-me, desde quando era marxista. Na juventude, falei, um pouco mais. Disse-nos que o importante não era a arquitetura, mas a vida bem vivida e os verdadeiros amigos. A arquitetura, atualmente serve aos governos e às elites. Um dia será para o povo. Apontou para um retrato de Luís Carlos Prestes, jovem, pendurado na parede com uma rosa desenhada abaixo. Declarou: “Meu amigo, terminou sem um tostão. Emprestei-lhe um apartamento e dei-lhe uma mesada até o fim da vida, com muito prazer”. Sobre Graciliano, faria um memorial: era um sujeito trancado e íntegro, um excepcional escritor. Que o problema dos tempos atuais era o triunfo dos idiotas. Mas a solidariedade entre os homens vencerá. Nunca mais o vi, porém tenho uma saudade incrível daquele encontro. (*) É advogado e secretário de Cultura do Estado de Alagoas.

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