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Nº 5759
Opinião

Velhos e Mo�os

DOM EDVALDO G. AMARAL * A CNBB está anunciando para a Campanha da Fraternidade de 2003 o tema “A fraternidade e as pessoas idosas”. O slogan será: “Dignidade, vida e esperança”. Desde já, faço votos que esta Campanha não se converta numa xaropada de cons

Por | Edição do dia 12/05/2002 - Matéria atualizada em 12/05/2002 às 00h00

DOM EDVALDO G. AMARAL * A CNBB está anunciando para a Campanha da Fraternidade de 2003 o tema “A fraternidade e as pessoas idosas”. O slogan será: “Dignidade, vida e esperança”. Desde já, faço votos que esta Campanha não se converta numa xaropada de consolações para a velhice: que é “a melhor idade”, que são os “jovens de ontem” e por aí afora. Cícero no “De senectude”, 9, constata: “Quid enim jucundius senecture, stipata studiis juventutis?” – “Que, pois, haverá de mais agradável do que uma velhice, cercada dos cuidados da juventude?” Quando o orador romano falava isso, entendia que os filhos, os netos, os amigos jovens deviam cercar as pessoas idosas de carinho, de apoio e de ajuda e não cobri-los de piedade e compaixão, lamentando com eles sua triste idade, seus achaques e suas limitações físicas. Muitos dizem: “Ah, se os velhos pudessem! Ah, se os moços soubessem!” Realmente, o passar dos anos nos traz conhecimentos e experiências, que infelizmente não temos forças físicas para implementar. Sabemos e não podemos. A idade nos dá maior clareza e compreensão dos fatos da vida. Ela, após tantos e tantas decepções, traições e incompreensões, nos faz conhecer melhor os homens, aquilatar com mais profundidade os elogios, as homenagens, as juras de amizade e fidelidade, aprofundar bem mais as verdadeiras intenções. Daí surgem a desconfiança, a não fácil aceitação do que nos dizem. Daí também, infelizmente, nasce o temor oriundo de experiências negativas, de frustrações sofridas ao longo da vida. Há um perigo sutil para ambas as gerações, que se encontram nos extremos da vida. Os moços podem cair no falaz engano e desastroso equívoco de julgar que “o mundo começou com eles”, isto é, tudo o que foi feito até agora está errado. Que as gerações que os precederam não souberam fazer nada. A culpa de todo erro do mundo é dos velhos. Só os moços agora, só as novas gerações é que vão fazer as coisas certas. Diziam os jovens revolucionários do maio “quente” de 1968 de Paris (eles também hoje já homens maduros): “Desconfie de quem tem menos de 30 anos!” Passados 34 anos, todos eles também têm hoje mais de 50 anos! O nosso erro (dos velhos) é pensar que “o mundo acaba conosco”. Isto é, que as novas gerações são incompetentes, que os jovens, com a sua inexperiência, nada saberão fazer de certo. É a velha lamentação de que “esses tempos de hoje”... Muitos pensam que depois dele, nada! Como dizia o rei francês: “Aprás moi, le déluge!” – Depois de mim, o dilúvio – provérbio que os franceses usam para significar: “Aproveitemos o presente sem preocupação pelas catástrofes que virão depois de nós”. Em todas as civilizações, antigas, seja na Grécia como em Ro-ma, seja entre os israelitas, o “conselho dos anciãos” representava o supremo poder decisório das grandes questões, sejam civis, sejam religiosas. O mundo com os avanços da ciência, sobretudo da medicina, com o expressivo aumento da expectativa de vida, a queda violenta da natalidade e a diminuição expressiva da mortalidade infantil, está se tornando um mundo de velhos. Na Europa e nos Estados Unidos, isso é visível e patente, nas ruas e nas praças das grandes cidades. Na família, o idoso, o vovô e a vovó, deve ser tratado com carinho, respeito e gratidão pelo muito que ele fez. Não atirá-lo num asilo, sem visita, ou confiná-lo num quarto de quintal, para isolá-lo da família. (*) É ARCEBISPO DE MACEIÓ

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