Opinião
A m�o inglesa e o indomado tr�nsito alagoano

| Izabel Brandão * Os moradores de Greenville viviam numa comunidade nordestina colonizada pelos ingleses. Falavam português mesclado com expressões traduzidas ao pé da letra do inglês. Um dia, o prefeito da cidadezinha decidiu estabelecer a mão inglesa no trânsito. Foi o caos. Estamos no Brasil, dizia um. Isso é autoritário e anti-democrático! Aqui todos sabem que veículos velozes andam na faixa da esquerda e os lentos pela direita! Somos cidadãos educados. Somos brasileiros! Bom, isso evidentemente é ficção. Foi uma novela passada no cenário nordestino, com direito a realismo fantástico, personagens aristocráticos de meia pataca, bruxas más travestidas de senhoras da sociedade, questões raciais, políticos corruptos, mas com sangue azul, enfim. Tudo dosado na veia da comédia. Isso foi há alguns anos. O problema é que todos os temas discutidos naquele contexto ficcional continuam perfeitamente na ordem do dia dos nossos cotidianos reais: corrupção política, problemas raciais e os problemas de trânsito... Ah! os problemas do trânsito em Maceió! Todos os dias é a mesma coisa: faixa da esquerda, de velocidade, atolada de carros andando lentos, obstruindo quem tem hora de chegar ao trabalho. A faixa da direita livre. Até as carroças, muitas vezes, preferem ir na faixa de velocidade e na contramão em qualquer circunstância. Quem quiser ir rápido, nem precisa se dar ao trabalho de ligar a sinaleira, fazer sinal de luz pedindo passagem. Nada disso é necessário. A passagem é, na maior parte das vezes, feita na faixa da direita, aquela para os veículos lentos... Nem precisa dizer que isso é um contra-senso, uma contravenção. Como resolver o problema? Já há algum tempo, o Detran vem mudando o trânsito de várias ruas da cidade e a mão única nessas ruas foi transformada no caminho supostamente de segurança para quem vai ou vem. Infelizmente, nunca houve, nem há, fiscalização adequada. As mudanças foram respeitadas de início, mas hoje é praxe termos que dar passagem a carros na contramão porque fala mais alto o tamanho ameaçador do carro, o receio de um comportamento mais agressivo (que já causou inclusive mortes) do motorista infrator. Isso sem falar em gestos obscenos de motoristas grosseiros. Será que se seguíssemos o exemplo de Greenville ao oficializar a mão inglesa teríamos o caos instaurado, como aconteceu na novela da ficção? (*) É professora da Ufal.