M�sica popular e identidade nacional

| Gilberto de Macedo * Na música popular de um país está representada grande parte de sua autenticidade cultural. É a raiz estabelecida na alma do povo. Aí residem os sentimentos mais puros, as formas originais de imaginação, as características dos valores, as atitudes peculiares, a espontaneidade dos comportamentos. Aí está a verdadeira identidade nacional. É a legitimidade primitiva, isenta de interferências estranhas e artifícios descaracterizantes trazidos das inovações mordernistas. Lembrar isso não é retrocedimento, senão posicionamento critico a respeito. No caso em apreço, trata-se da música popular brasileira, cujo romantismo diz de sua marcante peculiaridade. Nela está simbolizada a riqueza própria de nossa natureza e do nosso povo. Vejamos em apenas alguns exemplos, dadas as limitações de espaço. A começar por ? Aquarela do Brasil,? onde logo se percebe, a significativa presença, tão própria, desse povo, dos sentimentos do amor e da fé , assim cantados: Brasil! Meu Brasil brasileiro Terra de meu amor, e de nosso Senhor!... Logo mais, na revelação dos hábitos e costumes, da comovente beleza humana, representativos de uma época no desfile da mulher elegante: ? ... quero ver esta dona caminhando, pelos salões arrastando, o seu vestido rendado!... Brasil...? Já noutra música (? A volta do Boêmio?), e o romantismo vadio, ingênuo e sincero, que se ouve nas madrugadas tristes, do canto apaixonado, sem pecado. ? Boemia! Aqui me tens de regresso.....? Estão aí, brevemente, em poucos exemplos, algo que diz da nossa peculiriadade nacional, representada na alma do povo, na intimidade dos sentimentos coletivos, na raiz mesma da sociedade brasileira... É a resistência face aos estrangeirismos desfiguradores. Conservemos a nossa música popular, o samba, como símbolo da nacionalidade. Está nela a nossa identidade, da origem, evolução e atualidade. É cantar o Brasil, cantar o povo em todas as camadas, em sua primitividade, sobretudo; pois aí não se deram as influências descaracterizadas trazidas pelo modernismo artificioso, dos costumes extranhos e hábitos imposto pelas ameaças do poder estranho. Havemos, pois, de conservar a cantar a nossa música popular. Em nome da nossa identidade nacional, que deve permanecer com o advento do progresso desejado. (*) É médico.