Opinião
N�o jogue papel no ch�o

| Sérgio Costa * Cada um deve cuidar da sua própria saúde. Mas o Estado tem obrigação de fazer a sua parte. Como? Vacinando a população, construindo saneamento básico, tratando a água que manda para as nossas casas, bem como criando leis e inibindo ações que estimulem a proliferação das doenças públicas. Doentes, jamais chegaremos ao primeiro mundo. A propósito, quando voltam de suas viagens à Europa, o que mais os nossos amigos enaltecem é a cultura e a consciência cidadã de lá. ? Joguei papel no chão e, imediatamente, uma senhora que caminhava ao meu lado o colocou numa lixeira. Pior: bem próximo de onde estávamos havia uma faixa com os seguintes dizeres: ?Não jogue papel no chão?. Fiquei morto de vergonha! Certa noite, quando caminhava pelo calçadão da Ponta Verde, estranhei o contínuo fluxo de cachorrinhos que saíam alegres e saltitantes dos condomínios para fazer xixi e cocô na praia. Provoquei meu companheiro de caminhada, um de meus filhos. Perguntei-lhe se os condôminos têm consciência dos malefícios que estão causando a saúde pública? No que ele respondeu: ? Isso é o que podemos chamar de crime incauto, meu velho! Observe que as urinas se misturam com a areia por onde crianças e adultos brincam, passeiam e descansam inadvertidamente. No verão, os bolos fecais secam e o vento se encarrega de jogar as bactérias para todos os lados, inclusive para os nossos pulmões. Mas não acredito que os donos dos cachorrinhos tenham consciência dos males que estão causando à sociedade. Acho até que eles nem imaginam que podem ser vítimas da sua própria ignorância. Voltei à carga. E onde fica a responsabilidade do Estado? ? Trancada a sete chaves no inconsciente dos representantes dos órgãos fiscalizadores. Dizem que há uma lei que orienta e disciplina o passeio fisiológico dos cachorros, mas deve faltar vontade para reorientar e, se necessário, punir os ?desculturados?, respondeu ele. Naquela noite, chequei em casa tossindo. A brisa fria do mar deve ter irritado a minha garganta. Mas a síndrome ou a neurose do cocô seco me dizia que foram as bactérias voadoras que provocaram o estrago. Precisava ir urgentemente a um médico, pensei, mas não sabia se a um otorrinolaringologista ou a um psiquiatra! De uma coisa eu estava convicto: no dia seguinte, iria caminhar carregando uma placa na qual externaria minha indignação. Ironizei: ?Não jogue papel no chão, mas pode trazer o seu cãozinho para fazer xixi e cocô na praia!? (*) É contador.