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Nº 5759
Opinião

Cansa�o de fim de semestre

| JOSÉ MEDEIROS * Quando o ano chega a julho, rapidamente, chega a dezembro. Impressão? Ilusão dos sentidos? Até o fim do primeiro semestre, a gente agüenta bem. O segundo semestre é mais cansativo. As pessoas já chegam lá com as línguas de fora: cansada

Por | Edição do dia 14/12/2005 - Matéria atualizada em 14/12/2005 às 00h00

| JOSÉ MEDEIROS * Quando o ano chega a julho, rapidamente, chega a dezembro. Impressão? Ilusão dos sentidos? Até o fim do primeiro semestre, a gente agüenta bem. O segundo semestre é mais cansativo. As pessoas já chegam lá com as línguas de fora: cansadas, nervosas, estressadas. Pode não ser uma regra geral para a maioria, mas para professores é quase sempre assim. Quando fui diretor do Centro de Ciências Biológicas da Ufal (CCBI), adotei uma medida que a repetia anualmente: reunia todo o corpo docente no início de dezembro. Além das orientações de praxe, ouvia queixas e reclamações. Procurava tranqüilizar os professores. Um pouco de psicologia aplicada, relato de fatos de auto-ajuda e as coisas melhoravam para vencer bem o semestre. Nas empresas e organizações particulares os fatos já não são os mesmos. Pensava nesse tema quando encontrei um texto de Carlos Drummond de Andrade que cai como uma luva no que penso sobre o assunto. Vejamos o que diz: “Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente”. O tempo corre mais rápido do que no passado? Ou essa sensação é derivada do excesso de compromissos, do corre-corre, mais trabalho, menos lazer, ou do conjunto de tudo isso que alucina nossas estruturas orgânicas e mentais? Na minha adolescência, o tempo parecia parado, dava tempo para colocar uma cadeira na calçada à noite, manter um bate-papo com os vizinhos, ouvir os boatos, numa cidade onde não havia chegado a imagem da televisão. O tempo passava, displicentemente. Hoje, como diz o poeta, “O tempo de que desdenhei tanto, / indiferente e alheio ao meu espanto, / apressado e mordaz passa por mim”. Chega dezembro, advém a época natalina. Uma euforia mexe com as pessoas: décimo terceiro salário, presentes, cartões de boas-festas e preparativos para as festividades de fim de ano. É tempo de colher o que se plantou, tempo de abraços e felicitações. Tempo de esperança, que quase sempre vence cansaços de fim de semestre e desesperanças acumuladas durante o ano. (*) É médico e ex-secretário de Educação e de Saúde.

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