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Nº 5759
Opinião

Recorda��es natalinas

| MARCOS DAVI MELO * Nesta época do ano, a mídia é invadida pelo bombardeio natalino. É como se de repente brotassem por todos os cantos o espírito de solidariedade hibernado nos corações e mentes por todo o ano. É fácil se ler nas entrelinhas que o espe

Por | Edição do dia 24/12/2005 - Matéria atualizada em 24/12/2005 às 00h00

| MARCOS DAVI MELO * Nesta época do ano, a mídia é invadida pelo bombardeio natalino. É como se de repente brotassem por todos os cantos o espírito de solidariedade hibernado nos corações e mentes por todo o ano. É fácil se ler nas entrelinhas que o esperto marketing empresarial quer aproveitar a estação e vender o máximo de produtos que o momento permita, porque, sobretudo, ele é mais de consumismo que da perene solidariedade que o mundo tanto precisa. E, por mais que veja e reveja esse cenário, principalmente na televisão, não consigo vivenciar a euforia consumista. Pelo contrário, pago para não ir ao shopping e ter de enfrentar as multidões sôfregas. As limitações vêm das minhas lembranças das noites de Natal em família. Em nossa casa, a satisfação era regida somente pela emoção e pela alegria com a qual a minha mãe era possuída e que transmitia a todos nós. Leitora diária da bíblia sagrada, leitura que começava todo o primeiro dia do ano pelo Gênesis e terminava geralmente no fim de ano pela leitura do Apocalipse. A cada noite de Natal ela trazia sublinhada em sua mais que usada bíblia os salmos e versículos cuidadosamente escolhidos para aquela noite. Predominavam ainda em suas orações a preocupação com os mais desfavorecidos. Recebia também com euforia os telefonemas dos irmãos mais próximos e principalmente do que vivia na distante Manaus. Mesmo aos 88 anos e debilitada por uma leucemia crônica que muito a maltratou e ao final a levou de entre nós, ela nunca deixou de trazer com alegria as suas mensagens bíblicas, assim como com voz frágil e suave cantava os seus hinos preferidos para o Natal; Alvo como a neve e Chuva de bênçãos. Ela tinha plena e absoluta convicção que o menino Jesus renascia a cada Natal. Dos quitutes natalinos o apetite de faquir pouco se aproveitava e do vinho menos de meia taça já a fazia sentir-se “tonta”. Presentes e outros apelos da época não a entusiasmavam, mas tinha imenso prazer em encerrar a noite assistindo na televisão aos vídeos com o balé Bolshoi, especialmente o Quebra-Nozes. Hoje à noite como todos os anos vamos estar reunidos. Tenho imensa sorte em poder compartilhar com os meus filhos e com minha esposa esse momento. Ivanelza para minha fortuna tem os mesmos hábitos de minha mãe e vai conduzir o culto doméstico com a segurança que só quem tem fé suficiente é capaz. Vou continuar sentindo imensa saudade da minha velhinha, dos longínquos telefonemas dos tios que também já não estão entre nós. Mas vou me sentir como se ela e todos os outros estivessem presentes. (*) É médico.

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