Opinião
It�lia radical

| Lysette Lyra * De Florença a Roma são apenas horas. Saímos bem cedo, assim pudemos, ainda, aproveitar o resto do dia na capital romana. O Hotel é de luxo, mas fica na periferia da cidade, o que nos obriga ao uso de transporte para chegarmos ao centro. Para mim não é nada agradável, mas acho, com certa facilidade, uma van que me leva, com a cadeira, à Via del Corso, onde pretendo vagar pelas ruas próximas, mais importantes, e pela praça de Espanha, indo almoçar no famoso restaurante Alfredo?s. Desço numa calçada larga e vejo, rapidamente, que dispõe de requisitos para o tráfego de cadeiras de rodas. Fico animada antevendo a tarde distraída que me espera. Apesar do fluxo de gente, consigo me locomover com facilidade. Mas, de repente, surpreendo-me com obras que estão sendo feitas na rua e que me impedem de passar. Busco uma faixa de pedestres e atravesso para a calçada oposta. Noto, porém, que a mesma é muito estreita e meio curva, o que atrai minha cadeira para o meio do tráfego de veículos. Tento, mas não consigo dominá-la. Desisto e resolvo ganhar as ruas por trás da Via del Corso que, sei, me levarão ao restaurante Alfredo?s. Fui obrigada a desistir do meu passeio programado, com muito pesar, mas Roma, por ser uma cidade histórica, preserva sua estrutura antiga em detrimento do conforto e do progresso, em algumas coisas. Com a ajuda solidária de alguns transeuntes, consigo chegar ao meu destino! Mas tive que competir com motos, bicicletas, ônibus, em plena rua, para alcançar o restaurante. Ao lado das calçadas estão estacionados centenas de biciclos sem espaço para que o pedestre possa passar. Pelo menos pude almoçar onde queria, aquelas deliciosas macarronadas, depois o maître chamou um táxi e voltei desgostosa para o Hotel. No dia seguinte, fizemos, de ônibus, uma visita panorâmica à cidade. Revimos todos aqueles lugares antigos, carregados de história e arte. Lembranças da Roma dos Cesares, poderosa e valente que quase dominou o mundo. Aqui também os mártires cristãos derramaram seu sangue por amor ao Cristo, cuja vida foi sacrificada em nome da salvação da humanidade. Cada lugar é um relicário de arte, cada estátua, cada quadro é a expressão vigorosa e magnífica do talento de um conjunto de homens que transpuseram para o mármore e para as telas o que de mais profundo existiu dentro de suas almas. Ao ver as ruínas milenares, retrocedemos ao passado e deixamos a imaginação vagar em busca dos protagonistas de uma história que influenciou a formação do ocidente. (*) É escritora.