Opinião
Sobre otimismo e pessimismo

| Luciano Siqueira * Entre cumprimentos e mensagens da passagem de ano, ouvimos de uma paciente (e pessimista) leitora dessas notas semanais. ?Todo mundo fala em boas novas para 2006 e eu tenho quase nada a esperar. Por que ninguém diz que vem aí um ano pior??, escreve. E como que se antecipando a uma objeção da parte deste modesto colunista, adverte: ?Vê lá o que você vai escrever na primeira semana do ano!? Pois aqui está, amiga. Você se refere ao Brasil e não tem razão. Quer dizer: não há um otimismo unânime sobre o nosso futuro imediato ? a não ser nos cartões de Natal e ano-novo. Viu o pronunciamento oficial e a entrevista do presidente Lula no Fantástico? Uma visão otimista, apoiada em dados significativos que o animaram a proclamar 2006 ?o ano do povo brasileiro?. No dia seguinte, qual a resposta dos líderes da oposição? Desancaram o presidente, acusando-o de fantasiar as estimativas de crescimento da economia e outras coisas mais. Vale a pena ver também os polêmicos artigos do ministro Antônio Palocci e do ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, que a Folha de São Paulo publicou no finzinho do ano. Para Palocci, o país ?cresce com inflação baixa, contas públicas em ordem e um setor externo em expansão?, o que é suficiente para que se considere que, ?do ponto de vista técnico, as condições para o crescimento econômico são muito favoráveis nessa entrada de ano. O ambiente externo é positivo e a significativa criação de emprego, nos últimos 26 meses, dá um impulso à demanda interna, que irá suplementar aquele dado pelo aumento do crédito privado, observado recentemente.? Já Carlos Lessa afirma que ?o crescimento em 2004 foi um típico vôo de galinha. É positiva a geração de novos empregos, mas o que cresce são os setores que pagam os menores salários. Em 2005, o rendimento real médio foi 11,2% inferior ao de 2002. O Bolsa-Família melhora a proteção social. No Nordeste, estão 46,9% das famílias pobres e são distribuídos 49,3% das bolsas. Entretanto, 8,7 milhões de famílias recebem aproximadamente 50 centavos/dia por membro da família assistida. É positiva a elevação do salário mínimo, que permanece, no entanto, insuficiente.? E arremata: ?O país, porém, permanecerá prisioneiro de uma política econômica pró-mediocridade. O governo continuará firme na esperança do investimento estrangeiro.? Quem tem razão, Lula ou a oposição? Acompanhe com atenção o debate e tire suas conclusões. Mas o otimismo (ou pessimismo) não deve ser apenas um estado de espírito. (*) É vice-prefeito do Recife.