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Nº 5759
Opinião

O fato consumado

EDUARDO BOMFIM * Torna-se clara e límpida a pressão que o capital rentista faz com o intuito de desestabilizar a democracia no Brasil. Sim, porque para os agiotas que falam inglês ou mesmo os ventríloquos nacionais, o país não pode ter outra opção, José

Por | Edição do dia 17/05/2002 - Matéria atualizada em 17/05/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM * Torna-se clara e límpida a pressão que o capital rentista faz com o intuito de desestabilizar a democracia no Brasil. Sim, porque para os agiotas que falam inglês ou mesmo os ventríloquos nacionais, o país não pode ter outra opção, José Serra. Setenta por cento dos brasileiros já declararam, mesmo antes do pleito de outubro, que não desejam um próximo presidente indicado por FHC, e ponto. Mas o dinheiro fala tão alto que começaram a desestabilizar a economia deles mesmos, com o intuito de mostrar que existe alergia financeira a qualquer outra possibilidade, para presidente da República, que não venha a ser o preferido do senhor Fernando Henrique. Sobe o dólar, aumenta a taxa de “risco Brasil”, cresce a inflação, flutuações em diversos tipos de investimentos. Uma espécie de distonia neurovegetativa espalha-se entre os caridosos especuladores nativos e internacionais. Dias atrás, surgiram nas redações informações sobre uma pesquisa que indicava grande crescimento de Lula, seguido por Garotinho e Ciro, e atestava queda significativa do “simpático” candidato do planalto. Foi um Deus nos acuda diluviano. Um corre para lá, corre para cá. Abafa aqui, contra-ataca ali. Ministros, senadores, deputados, mobilizados, foram a público bem vestidos como manda o figurino tucano, desmentir os tais dos rumores. E ainda ameaçaram, olha a economia... Era verdade pura. Lula disparou, cresceu para 43% de intenções de votos, José Serra em queda com 17% em empate técnico com Ciro e Garotinho. Comprovados pela aferição de dois institutos reconhecidamente abalizados. Mas convém não se iludir. A pressão vai ser demoníaca. Ameaças estapafúrdias vão surgir, terreno minado, fortes trovoadas, chuvas de granizo e tudo mais. O povo pode votar esmagadoramente na oposição, golear, humilhar nas urnas o governo, mas o Serra tem porque tem quer ser o próximo presidente. O que não se admite é eleger qualquer um, assim sem mais nem menos. Conclui-se, pelos fatos e fortes pressões, além de manipulações econômicas generalizadas, que há um arremedo de democracia e uma indisfarçada ditadura do “livre mercado”. E as eleições nem começaram. Estamos apenas na fase de aquecimento. Já falam, inclusive, até em um possível terceiro mandato do Fujimori pátrio. Não creio que tal aberração prospere. O órgão oficial, IBGE, divulgou o censo de 2000. Concentração de renda, desemprego, estagnação econômica etc. Negócio impróprio para menores. O presidente considerou o Instituto, os números, “ilógicos”. Vejam bem, o governo descredencia a própria fonte governamental pela simples razão que ela diagnosticou a realidade, com alguma isenção metodológica. O jogo é pesa-díssimo e até a Convenção de Genebra que regulamenta o comportamento das nações em casos de guerra, corre o perigo de vir a ser ignorada. Querem impor uma política do fato consumado, na marra. E sabe-se lá de que outras formas. Mas como o raciocínio dialético não escolhe interlocutor, lembro a frase do sagaz e mineiro presidente Tancredo Neves: “Em política só existe uma coisa mais forte que o fato consumado – é o fato novo”. Há uma crescente onda de indignação nacional, repúdio mesmo contra o governo federal, aliados estaduais e os seus quase oito anos de sadismo econômico e social. Desta forma, vamos ser protagonistas e ao mesmo tempo espectadores de uma tremenda batalha entre o “fato consumado” e o “fato novo”. (*) É ADVOGADO

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