Opinião
Entropia

| Jorge Briseno * A malvada da segunda Lei da Termodinâmica pode ser enunciada da seguinte forma: ?Todo sistema, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima?. Tudo tende ao caos, se não ocorrer alguma forma de interferência. Podemos levar esta definição da física para todos os sistemas, principalmente os econômicos e sociais, os quais, se deixados livres, passam de uma situação de ordem para uma crescente desordem, descontrole, enfim, para uma situação da mais completa bagunça. Estes assuntos vieram à minha mente ao observar fotos aéreas de um vôo sobre a represa de Guarapiranga, em São Paulo. Atualmente, cerca de 35% da área total está ocupada por aproximadamente 376 loteamentos irregulares, responsáveis pela deterioração da represa com o desmatamento, assoreamento e lançamento de esgoto e de lixo, comprometendo a qualidade da água da Bacia do Guarapiranga, hoje utilizada como fonte de abastecimento de água para mais de 3,4 milhões de pessoas na região da Grande São Paulo, aproximadamente 20% da população. Aqui em Alagoas, já possuímos, em várias localidades, nossas ?Guarapirangas?. Tive a triste oportunidade de constatar a deterioração da água de uma barragem que abastece a cidade de Joaquim Gomes, provocada pela ausência de qualquer controle e planejamento do uso do solo por parte do poder municipal ao longo dos anos, permitindo a expansão urbana até os limites das margens do córrego que alimenta o reservatório. Na área onde outrora existia uma densa vegetação está instalado um loteamento clandestino, construído sem infra-estrutura básica. Tal fato obrigará a Casal a construir uma nova captação de água em um ponto mais protegido e preservado, onerando-a financeiramente. Corpos hídricos importantes, como o Rio Jacarecica, em Maceió e o Niquim, uma das poucas opções de abastecimento da Barra de São Miguel, sofrem com o acelerado processo de urbanização nas proximidades de suas margens, devido à forte pressão imobiliária. Torna-se evidente que se essa ocupação urbana se realizar sem os cuidados e os controles devidos e, principalmente, sem respeitar os limites impostos pela natureza, estes rios entrarão na ?linha de tiro?. Terão uma morte anunciada, visto que a entropia, definitivamente, não brinca em serviço e nem dá mole para ninguém. Dedico este texto ao eng. Josué Palmeira, bravo militante do saneamento ambiental. (*) É engenheiro e presidente da Casal.