Amargo vale - Editorial
Em meio a tantas notícias palpitantes na mídia nacional nos últimos 15 dias, aparentemente passou despercebida da maioria do público uma notícia deveras importante: uma das principais privatizações da era FHC será revista pela Justiça. A decisão é da 5ª
Por | Edição do dia 28/01/2006 - Matéria atualizada em 28/01/2006 às 00h00
Em meio a tantas notícias palpitantes na mídia nacional nos últimos 15 dias, aparentemente passou despercebida da maioria do público uma notícia deveras importante: uma das principais privatizações da era FHC será revista pela Justiça. A decisão é da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal de Brasília e o negócio a ser reavaliado é nada mais nada menos que a venda da Companhia Vale do Rio Doce. Se essa revisão for adiante, o debate sobre mensalão, caixa 2 e outros escândalos do momento pode virar coisa de criança. O fulcro da questão levantada é a suspeita (aventada desde os primeiros passos daquele gigantesco negócio) de que o valor da Vale do Rio Doce teria sido subfaturado ou melhor, subestimado no processo de avaliação do patrimônio da gigantesca empresa (então estatal). Um dos exemplos que fundamentam tais suspeitas está nas diferenças de valores entre a avaliação apresentada no dia 8 de maio de 1995, pela Vale, à Securities and Exchange Comission (SEC) a entidade fiscalizadora do mercado acionário nos Estados Unidos quando as reservas lavráveis de ferro foram descritas como estimadas em 7,9 bilhões de toneladas. Dois anos depois, no edital de convocação do leilão de privatização, segundo os argumentos levados à barra do tribunal, essas reservas reduziram-se a apenas 1,4 bilhão de toneladas. A Vale do Rio Doce foi privatizada em 6 de maio de 1997, arrematada pelo Consórcio Brasil, que deslocou o favorito Consórcio Valecom e levou a arca do tesouro por R$ 3.338.178.240,00. A polêmica foi aquietada pela ação dissipadora do tempo. E agora pode voltar à pauta. Seria um bom momento, pois hoje o País já está no ritmo de esclarecer coisas nebulosas e cifras espantosas de nosso passado recente. Oxalá essa questão não seja reconduzida para o vale das sombras e do silêncio.