A maior conquista dos governos do PT foi o aumento do poder de compra do salário mínimo. Houve um reajuste real médio de 5,1% ao ano no nordeste, mais que o dobro do registrado no período FHC. Hoje o mínimo compra 2,2 cestas básicas, é o maior valor desde 1965. Isso é muito mais importante que o Bolsa Família, tanto do ponto de vista econômico, pois o impacto social é muito maior, quanto do ponto de vista político, pois quem recebe Bolsa Família já é um natural eleitor do PT. O pensamento de oposição não nega isso (ou não deveria), mas alega que, por ter sido motivado não por ganho de produtividade e sim por decreto, esse aumento causa pressão inflacionária, que estaria saindo ao controle, prejudicando a todos e até revertendo o próprio processo. Quem quiser saber qual dos lados está certo é só consultar os especialistas, mas antes é preciso escolher qual resposta você quer, pois elas existem para todos os gostos. A forma ideal de se tentar chegar a uma agenda consensual é parar de debater a baixa renda (bolsas, auxílios e salários) em termos qualitativos e se ater no quantitativo. A questão não é quanto é o salário mínimo e sim quantos são. Segundo o Banco Central, 46.7 milhões de brasileiros tem rendimento baseado no mínimo. Noves fora aposentados e população inativa, Isso significa que mais ou menos 40% dos trabalhadores brasileiros ganham o mínimo ou uma merrequinha a mais. O PIB dos EUA é cerca de 6 vezes o do Brasil e o salário mínimo é cerca de 5 vezes maior. A correlação parece óbvia, mas é enganosa. O salário mínimo lá é realmente bem melhor, mas não é por isso que eles são tão mais ricos. A grande diferença entre os EUA e o Brasil é que lá menos de 2% dependem do mínimo. Ai a coisa muda totalmente de figura. A verdadeira lição que a América pode nos dar é a recente vitória dos empregados do Walmark, que conseguiram com muita pressão trabalhista, social e política convencer a empresa a simplesmente abolir o salário mínimo de suas folhas de pagamento. O mínimo é uma prisão da qual precisamos nos libertar. Ele é um desestímulo a produtividade dos empregados e uma mania cancerosa na cabeça dos patrões. Não é a toa que no Brasil o salário mínimo é mais conhecido pelo seu apelido infame, muito usado para se referir ao rendimento das domésticas, que por mais talentosas que sejam, só recebem propostas para ganhar “o salário”.