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Nº 5759
Opinião

O bafo do drag�o

| Sérgio Barroso * Tive a sorte de estar entre Pequim e Xangai, em agosto de 2001. Zonzo e insone - 11 horas de fuso horário -, passei a noite mudando os 5 canais da televisão estatal chinesa. De boa qualidade técnica e programação muito variada, alguns

Por | Edição do dia 16/02/2006 - Matéria atualizada em 16/02/2006 às 00h00

| Sérgio Barroso * Tive a sorte de estar entre Pequim e Xangai, em agosto de 2001. Zonzo e insone - 11 horas de fuso horário -, passei a noite mudando os 5 canais da televisão estatal chinesa. De boa qualidade técnica e programação muito variada, alguns deles tinham que exibir os quatro idiomas na tela, falando-se o oficial, o Mandarim. O alfabeto chinês, de 4.500 anos e originalmente com 50.000 caracteres, simplificou-se para 6.500; um caracter tem um significado - árvore, por exemplo - e não um som. São 55 minorias étnicas e incontáveis dialetos. Pelas vidraças do hotel, numa das avenidas centrais da milenar Pequim, uma densa névoa de verão e as primeiras centenas de bicicletas. Lembrei-me da “névoa global”, referida pelo historiador marxista Eric Hobsbawm, mirando o final da era dos extremos (1914-1991). De manhã, já em Pudong (salário médio de US$ 350), região da moderníssima Xangai, fui direto ao assunto subjacente ao badalado crescimento econômico: - E as desigualdades? “Estamos subindo muito os impostos das empresas e a taxação dos altos salários”, respondeu-me a alegre Xu Ke, da federação nacional dos sindicatos chineses. Problema crucial do país, a renda per capita urbana é superior à rural em até 70% (2004): recentemente o governo aboliu da taxa sobre a renda camponesa de mais de 2.600 anos (!), que retinha cerca de 20% dela; os subsídios agrícolas foram US$ 6,5 bilhões e US$ 7,2 bilhões (2004 a 2005); em 2004 produziu-se 469,5 milhões de toneladas de cereais, com aumento de 11% com relação a 2003, alcançando 472,2 milhões em 2005. Hoje com 22% da população mundial, a China incorporou, nesses últimos 20 anos, 300 milhões de pessoas à condição de cidadania, declarou a ONU. Seu crescimento econômico médio duodecenal beirou os 10%, coisa inédita na história; em 2005 assumiu o posto de 4ª economia mundial e suas reservas denominadas em dólar atingiram US$ 819 bilhões. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, medido em paridade do poder de compra (PPP), deixa o país somente atrás dos EUA. Aliás, noticiou-se que o último superávit comercial chinês com o Tio Sam chegou a US$ 200 bilhões! EUA hoje compram eletroeletrônicos da China: voilà a nova divisão internacional do trabalho! Voraz por commodities (petróleo, minérios, soja, etc), o dragão alavanca o dinamismo na periferia subdesenvolvida, inclusive a devastada África subsaariana, que obteve crescimento econômico de 2003 a 2005. Shie, shie (obrigado), dragão. (*) É médico e doutorando em Economia Social e do Trabalho.

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